Por que nao existe vacina para hiv

Os primeiros casos da Aids, doença causada pelo vírus HIV, foram documentados no início da década de 1980, cerca de 40 anos atrás. Desde então, pesquisadores conseguiram fazer uma série de avanços significativos no tratamento da doença, como por exemplo, a adoção do coquetel antirretroviral e os tratamentos de profilaxia pré e pós-exposição, todos eles compostos por uma série de medicamentos.

Esses tratamentos mudaram o jogo em relação à doença, que, até meados da década de 1990, tinha em seu diagnóstico uma espécie de sentença de morte, e, hoje, permite que as pessoas tenham uma vida saudável e não transmitam o vírus para seus parceiros. Porém, mesmo depois de quatro décadas, ainda não existe uma vacina capaz de treinar o sistema imunológico para evitar a infecção pelo HIV antes que ele se enraíze.

No Brasil, a distribuição dos medicamentos profiláticos e antirretrovirais é bem organizada e acessível para todos que precisam dela. Porém, essa não é a regra em todas as partes do mundo e, mesmo em países ricos, o acesso a esses remédios pode ser difícil em alguns locais. Quando falamos em países com baixo nível de desenvolvimento socioeconômico, o problema é ainda maior, já que, em alguns deles, as taxas de infecção são altas e não existe acesso à medicação.

Desafios para as vacinas

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Janssen trabalha no desenvolvimento de duas vacinas contra o HIV. Crédito: Pcruciatti (Shutterstock)

As vacinas são as ferramentas mais eficazes para a erradicação de doenças infecciosas, como foi o caso da varíola. Em relação ao HIV, existe uma série de imunizantes em desenvolvimento em diferentes fases de testes clínicos. Uma das principais candidatas é a vacina desenvolvida pela Janssen Vaccines, subsidiária da Johnson & Johnson para produção de vacinas.

Atualmente, a Janssen está realizando dois testes de eficácia de sua candidata à vacina em humanos, os resultados de uma delas podem ser conhecidos já no final de 2021. Mas, por que as vacinas contra a Covid-19 foram desenvolvidas em pouco menos de um ano e os imunizantes contra o HIV ainda não possuem resultados definitivos?

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Uma vacina para o HIV não poderia apenas diminuir a quantidade de vírus no corpo. Crédito: PX Here

“O sistema imunológico humano não se cura do HIV, enquanto o que estava muito claro era que o sistema imunológico humano era capaz de se curar da Covid-19”, disse o investigador principal de uma organização global de financiamento de vacinas contra o HIV, a HVTN, Larry Corey, ao Medical Xpress.

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Além disso, enquanto o Sars-Cov-2 tem algumas dezenas de variantes conhecidas, o HIV tem centenas ou até milhares de variantes dentro de uma mesma pessoa, o que dificulta bastante o desenvolvimento de uma vacina. Isso acontece porque o HIV é um retrovírus, ou seja, ele se incorpora rapidamente ao DNA do hospedeiro, por isso, uma vacina eficaz teria que interromper a infecção e não apenas reduzir a quantidade de vírus no corpo.

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Por que nao existe vacina para hiv

O Dia de Conscientização sobre a Necessidade de Vacina contra o HIV/Aids, comemorado anualmente em 18 de maio, tem como objetivo reconhecer e agradecer a todos os voluntários dedicados, membros da comunidade, profissionais de saúde e cientistas que trabalham juntos para desenvolver uma vacina para prevenir o HIV. É também um dia para educar sobre a importância da pesquisa de uma vacina segura e eficaz como chave para acabar com o HIV/Aids.

A resposta ao COVID-19 deixa claro que o mundo deve fazer melhor. Os avanços científicos e a equidade devem ir além para garantir a prevenção ao HIV, bem como uma futura vacina. No entanto, nos últimos dois anos, os resultados dos principais testes de vacinas contra o HIV derrubaram o que já era sabido e reformularam as perguntas que devem ser feitas.

A pesquisa biomédica evoluiu mais rapidamente nos últimos anos do que em qualquer outro momento da história humana. Novas plataformas e produtos de bioengenharia estão mudando a forma como as doenças são tratadas e prevenidas. Novos compromissos globais de compartilhamento de informações e dados estão finalmente se movendo para tornar a pesquisa uma empresa verdadeiramente global. De muitas maneiras, porém, o desenho de testes de vacinas contra o HIV permanece preso no século 20.

É preciso agir com urgência para desenvolver modelos novos e mais rápidos para o avanço da ciência das vacinas contra o HIV que possam se adaptar rapidamente ao que é aprendido. É preciso que os frutos da ciência possam ser usufruídos equitativamente.

Novas abordagens de pesquisa oferecem a perspectiva de responder a perguntas cruciais com segurança e rapidez. Mas as estruturas comerciais, legais e regulatórias não são projetadas para mover a pesquisa de vacinas contra o HIV com maior certeza, facilidade e velocidade.

A união é necessária para discutir oportunidades e desafios de novas abordagens à pesquisa e maximizar o potencial de uma agenda de pesquisa de vacinas para prevenir a infecção pelo HIV no século XXI.

A importância da data traz à tona estudos recentes com testes anti-HIV no Brasil e em outros países. Com 38 milhões de pessoas infectadas em todo o mundo, o vírus HIV ainda sofre mutações dificultando sua cura.

Diferentemente de outros vírus, o HIV não induz uma resposta imune eficiente e protetora nas pessoas que foram infectadas. Isso compromete um princípio básico do desenvolvimento de vacinas que é o de induzir uma reação “semelhante a uma infecção natural” para que as pessoas fiquem protegidas.

De forma totalmente inédita, percebeu-se que uma vacina contra o HIV precisa ter como objetivo a indução de uma resposta imune protetora mais intensa e eficiente do que aquela que a própria infecção pelo HIV é naturalmente capaz de induzir em uma pessoa. Este grau de eficiência é algo que até hoje não foi alcançado com outras vacinas que, por princípio, induzem nas pessoas uma reação bem menos intensa do que seria a doença natural e com isso já são capazes de gerar proteção suficiente para evitar as formas graves e eventualmente fatais de uma doença.

A Aids é uma doença infecciosa, transmitida pelo vírus HIV. Segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, do Ministério da Saúde e do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (UNAIDS), a cada 15 minutos uma pessoa se infecta com o vírus no Brasil e sete pessoas morrem por dia em São Paulo.

Na primeira fase, chamada de infecção aguda, ocorre a incubação do HIV – tempo que decorre entre a exposição ao vírus até o surgimento dos sinais da doença. Os primeiros sintomas são muito parecidos com os de uma gripe, como febre e mal-estar. Por isso, a maioria dos casos passa despercebida.

A próxima fase é marcada pela forte interação entre as células de defesa e as constantes e rápidas mutações do vírus. Esse período, que pode durar muitos anos, é chamado de assintomático.

Com o frequente ataque, as células de defesa começam a funcionar com menos eficiência até serem destruídas. O organismo fica cada vez mais fraco e vulnerável a infecções comuns.

Os sintomas que comumente aparecem nessa fase são: febre, diarreia, suores noturnos e emagrecimento.

A baixa imunidade permite o aparecimento de doenças oportunistas, que recebem esse nome por se aproveitarem da fraqueza do organismo. Com isso, atinge-se o estágio mais avançado da doença, a Aids.

Quem chega a essa fase, por não saber da sua infecção ou por não seguir o tratamento indicado pela equipe de saúde, pode sofrer de hepatites virais, tuberculose, pneumonia, toxoplasmose e alguns tipos de câncer.

Pessoas soropositivas, que têm ou não Aids, podem transmitir o vírus a outras pessoas pelas relações sexuais desprotegidas, pelo compartilhamento de seringas contaminadas ou de mãe para filho durante a gravidez e a amamentação.

Os medicamentos antirretrovirais (ARV) surgiram na década de 1980 e atuam para impedir a multiplicação do HIV no organismo. Esses medicamentos ajudam a evitar o enfraquecimento do sistema imunológico e seu uso regular é fundamental para aumentar o tempo e a qualidade de vida das pessoas que vivem com HIV, reduzindo o número de internações e infecções por doenças oportunistas.

No Brasil, desde 1996, o SUS distribui gratuitamente os medicamentos para HIV/Aids a todas as pessoas que necessitam de tratamento.

Fontes:

Empresa Brasil de Comunicação
Global Advocacy for HIV Prevention (AVAC)
Ministério da Saúde
VICTOR, Jefferson Russo. Por que ainda não foi criada uma vacina contra a AIDS? Saúde Debate, fev. 2022