O que a música evoca no eu lírico e que constitui o tema central do poema

O que a música evoca no eu lírico e que constitui o tema central do poema

é ser homem. Que as forças cegas se domem Pela visão que a alma tem! Atro: escuro. PESSOA, Fernando. O Quinto Império. In: GALHOz, Maria Aliete (Org). Fernando Pessoa: obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1999. p. 84-85. Erma: solitária, deserta. PensanDe soSRe TexToRTOIA. Reúna-se com seus colegas e, com o auxilio do professor, discutam a afirmação a seguir, a partir da análise geral do poema. A leitura do poema "O Quinto Império" nos permite interpretá-lo de duas maneiras: no âmbito individual, humano, desvinculado do objetivo geral de Mensageme do contexto histórico português, e no âmbito histórico, coletivo, relacionado ao objetivo geral da coletânea e do contexto português da época de Fernando Pessoa. Bi8LiOTeca GULTURat A Biblioteca Nacional de Portugal digitalizou Os manuscritos de Pes- soa e disponibilizou-os on-line: <http://purl. pt/1000/1/>. Que atitudes o eu lírico identifica como "Ter por vida a sepultura"? Que desafio ele lança ao povo português? 29 Poesia lírica A poesia lirica de Fernando Pessoa está reunida nas obras póstumas Quadras ao gosto popular e Cancioneiro (titulo que remete às coletâneas de poemas medievais) Por meio dela, o poeta resgata ritmos e formas tradicionais do lirismo lusitano. Perpassa o Cancioneiro um principio poético segundo o qual um poema deve representar, simultaneamente, "paisagens interiores" (mundo interior) e "paisagens exteriores" (mundo real, concreto) do sujeito lírico, pois cada sensação vivida pelo homem é constituída de uma série de "sensações mescladas", e não isoladas. Leitura Pobre velha música Com que ånsia tão raiva Quero aquele outrora! E eu era feliz? Não sei: Pobre velha música! Não sei por que agrado, Enche-se de lágrimas Meu olhar parado. Fui-o outrora agora. Recordo outro ouvir-te, Não sei se te ouvi PESSOA, Fernando. Pobre velha música. In: GALHOz, Maria Aliete (Org.). Fernando Pessoa: obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1999. p. 140-141. Nessa minha infåncia Que me lembra em ti. Pensanpe soBRe TexTo ilL. Como você já sabe, forma e conteúdo são componentes que caminham juntos na construção de sentido de um poema. a) Do ponto de vista da métrica, que tipo de versos há em "Pobre velha música"? b) Agora, relacione a forma à referência que o eu lirico faz, logo no primeiro verso, à "velha música". 2O que a música evoca no eu lirico e que constitui o tema central do poema? Analise dois versos bastante conhecidos da poesia lirica de Pessoa, em que o poeta cria um efeito baseado no contraste entre presente e passado, felicidade e infeli- cidade. (Entre colchetes estão inseridos os elementos suprimidos pelo poeta.) "E eu era feliz? Não sei: eu Fui-o feliz| outrora [na infância agora [hoje]." FaLa a No poema"Pobre velha música", há uma representação simultânea da "paisagem interior" (rememoração da infáncia) e da "exterior" (audição de uma música "pobre" e "velha"). Você acha que a música tem o poder de reviver passagens da vida e de transformá-las? Que música traz sua infância de volta e a faz parecer mágica e feliz? 30 Um poeta múltiplo Retome o que você sabe sobre Romeu eJulieta. Habitam essa peça inglesa, além dos protagonistas, os Capuleto (pais de Julieta), os Montecchio (pais de Romeu), Teobaldo (primo de Julieta), a Ama (confidente de Julieta), Frei Lourenço, etc. Agora imagine que cada um desses seres ficcionais represente uma das facetas do autor, William Shakes- peare, e pudessem escrever sua própria vers�o de RomeueJulieta. Como seria a versão de cada um? Certamente, haveria vários pontos de vista, estilos de escrita diversos e uso de gêneros diterentes para contar a famosa história de amor do casal de Verona. Fernando Pessoa exercitou essa possibilidade com a criação de seus heterônimos. Como você viu, o poema que abre este capitulo, embora tenha sido escrito por Fernando Pessoa, leva a assinatura de Álvaro de Campos, que não é simplesmente um pseudônimo usado por Pessoa para ocultar a autoria de seus textos, mas um Segundo Antônio José Saraivae Oscar Lopes, "os heterônimos são, pode dizer-se, uma invenção nova na lirica europeia, embora já inerente à tradição dramática. Podemos talvez compreendê-los supondo que cada heterönimo corresponde ao ciclo de uma atitude de aparência implausivel, mas experimentada até às últimas consequëncias .;cada heterônimo parece apostado em invalidar uma tese consagrada-e acaba por também se invalidar (em teoria) como antítese". In: SARAIVA, António José; LOPES, Oscar. História da literatura portuguesa. 17. ed. Lisboa: Porto Editora, s.d., P. 997 Fragmento) Nome fictício adotado por quem não quer revelar sua verdadeira identidade. heterônimo. Fernando Pessoa inventou personalidades dotadas de nomes, biografias, indi- vidualidades, estilos e caracteristicas fisicas próprias. Esses heterônimos não são personagens, ja que também se expressam artisticamente escrevendo poemas, assim como seu criador (ortônimo). Multiplicando-se em vários, o poeta português mergulha numa apreensão mais complexa da realidade, pois se permite investigar diferentes pontos de vista sobre o mundo, em lugar de apenas um. Entre os mais de setenta nomes, Pessoa desenvolveu completamente apenas três: Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. Você vai conhecer alguns aspectos da poesia desses heterônimos. invesTiGUe em .LiTeRATURa Que autores compu- nham a biblioteca cultu- ral de Pessoa? Alberto Caeiro: o mestre do ver e ouvir Leitura O guardador de rebanhos IX Sou um guardador de rebanhos O rebanho é os meus pensamentos E os meus pensamentos são todos sensações. Penso com os olhos e com os ouvidos E com as mãos e os pés E com o nariz e a boca. Pensar uma flor é v�-la e cheirá-la E comer um fruto ésaber-lhe o sentido. Por isso quando num dia de calor Me sinto triste de gozá-lo tanto, E me deito ao comprido na erva, E fecho os olhos quentes, Sinto todo o meu corpo deitado na realidade, Sei a verdade e sou feliz. Desenho de Alberto Caeiro por Almada Negreiros. 1958. CAEIRO, Alberto. O guardador de rebanhos. In: GALHOZ, Maria Aliete (Org). Fernando Pessoa: obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1999. p. 212-213 31 PensanDe sosRe TexTO ElLAK.. O eu lirico do poema expõe uma determinada concepção de realidade e de verdade. Atente para o percurso claro, simples e lógico presente no texto: primeiro o sujeito poético se apresenta (ele é um homem do campo, que tem como função guardar rebanhos); depois, explica o que são seus pensamentose dá exemplos. Infira: o que seriam realidade e verdade para o eu lírico? Como você pôde constatar, Alberto Caeiro tem como principio de vida a simplicidade e a valorização do contato (físico) com a natureza. Esse heterônimo supervaloriza a sensação, pois entende que o conhecimento do mundo é dado pelos órgãos dos sentidos e não por sistemas de pensamento já constituidos, como as teorias filosóficas ou cientificas ou, ainda, as religiões. Caeiro deseja abolir o pensar, substituindo-o pelo ver e pelo ouvir. O poeta prefere o verso livree branco e vale-se de uma linguagem simples, condizente coma expressão de um homem do campo. Ricardo Reis: o clássico Leitura Não só quem nos odeia ou nos inveja Dos píncaros sem nada. Quem quer pouco, tem tudo; quem quer nada Elivre; quem não tem, e não deseja, Homem, éigual aos deuses. Não só quem nos odeia ou nos inveja Nos limita e oprime; quem nos ama Não menos nos limita. Que os deuses me concedam que, despido De afetos, tenha a fria liberdade REIS, Ricardo. Não só quem nos odeia ou nos inveja. In: GALH0Z, Maria Aliete (Org.). Fernando Pessoa: obra poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1999. p. 285. Pincaros: pontos mais elevados; cumes. PensanDe seBRe TexTO neiill. Nesse poema, o que o eu lirico pede aos deuses? FaLa ai Ricardo Reis cultua

O que a música evoca no eu lírico e que constitui o tema central do poema
O que a música evoca no eu lírico e que constitui o tema central do poema
O que a música evoca no eu lírico e que constitui o tema central do poema

Essa lua enlutada, esse desassossego

A convulsão de dentro, ilharga

Dentro da solidão, corpo morrendo

Tudo isso te devo.

E eram tão vastas

As coisas planejadas, navios,

Muralhas de marfim, palavras largas

Consentimento sempre.

E seria dezembro.

Um cavalo de jade sob as águas

Dupla transparência, fio suspenso

Todas essas coisas na ponta dos teus dedos

E tudo se desfez no pórtico do tempo Em lívido silêncio.

Umas manhãs de vidro

Vento, a alma esvaziada, um sol que não vejo

Também isso te devo.

HILST, H. Júbilo, memória, noviciado da paixão. São Paulo: Cia. Das Letras, 2018.

No poema, o eu lírico faz um inventário de estados passados espelhados no presente. Nesse processo, aflora o