Segundo as informações do poema e possível identificar quem seria o eu poético

Segundo as informações do poema e possível identificar quem seria o eu poético

Doze seres confeitados rodam no olhar psicotrópico do Mago Tweentween, durante o sonho do seu Eu louco abstrato fabuloso: Ukby tem cabelos de chiclete mascado, Dowdow diz “oi”, Tchbytch é transparente, Delpersing cospe flores, Babyba usa asas, Seeteesee toca tabla, Affresh grita “sim”, Zoxrain tem língua blue, Jayday curte Peter Sallers, Pappymiss fuma erva, Mykyky transa livre, Kandafanda é lilás. Esses seres são fadas que moram num lugar mágico chamado Fadastafadasbumplel. De repente, porém, elas descobrem que uma das Droslínferas, flores de luz de 1427 pétalas que jamais apagam, está querendo enguiçar e precisa rapidamente que troquem a sua lâmpada. Então se desenrola uma alucinante aventura onde as 12 fadas, voando dentro de um aviãozinho supersônico feito de papel de bombom, passam pelos Centas Àlatus, mitológicos centauros com asas e cabelos arco-irisados... pelos Recortados Celofânicos, milhares de homenzinhos nus feitos de papel celofane.. pela Tesoura Maga KKK, do Gigante Kykyky, que não para de recortar... pelo Rio de Pão fofíssimo cercado pelos Ratutus Aniladus... por Lálálá ou o “Príncipe da Próxima Música” que acha que os momentos devem ser passados cantando até ser avistada a Música Seguinte que está bem próxima ao Labirinto dos Pirulitos que fica em frente ao Túnel Rosado Cru... pelo Pés Alaranjados que pisam aqui e acolá... pelo Túnel Rosado Cru... pelos Copos Girantes Gigantes da Certeza, que sempre perguntam se tem-se certeza do que se estava fazendo... pela Corda da Guitarra de Bife... até caírem no vazio sem cor da paz, do amor, da liberdade, do sexo, das drogas, do rock’n roll, onde deuses psicodélicos estão sentados em balanços de ar. Quando, enfim, elas conseguem trocar a lâmpada da flor enguiçada, toda harmonia volta a Fadastafadasbumplel.

Quantidade de Páginas: 116

Gênero: Fantasia

Editora: Editora Drago

Nº de Edição: 1ª

Ano de Publicação: 2019 

ISBN: 978-85-9596-201-9

Idioma: Português


POEMA -  EXCURSÃO

Segundo as informações do poema e possível identificar quem seria o eu poético


O ônibus roncava na subida

e como era difícil o amor de Mariana,

de blusa rala e jeans apertado!

A viagem nem tinha começado

e eu ali, em meio ao vozerio, cantava

batendo nos bancos,

e a professora pedia um pouco de silêncio,

pelo amor de Deus, vou ficar surda,

e a turma batucava e batucava

e batucava no meu peito

um coração pedindo estrada

e tu, nem te ligo,

conversavas com Luísa, ajeitando uma rosa branca

nos teus cabelos lisos,

ô Mariana, vê se me vê, pô, estou aqui,

louco de você, e me calava,

ouvindo o ônibus cheio de amor pela estrada

que diante dele se torcia

machucada.

                                            CAPPARELLI, Sérgio. Restos de arco-íris. Porto Alegre: L&PM,2000.

1 -   Explique que efeito de sentido produzem as repetições no poema “excursão”

     As repetições indicam as batidas do coração do eu poético; provavelmente referem-se ao fato de o coração do eu poético estar acelerado.

2 – Observe que, além da repetição de palavras, o poema também emprega versos curtos, em que se alternam sílabas fracas e fortes. Identifique esses versos e explique de que modo esse recursos reforçam o efeito de sentido que você indicou na atividade anterior.

     “Batendo nos bancos”; “e tu, nem te ligo”. Eles também expressam as batidas do coração do eu poético.

3 -   Interprete os seguintes versos do poema de Sérgio Capparelli:

        Ouvindo o ônibus cheio de amor pela estrada que diante dele se torcia machucada.

     “O ônibus cheio de amor” se refere ao sentimento do eu poético que era capaz de encher, tomar o ônibus de amor. A expressão “estrada que se torcia” refere-se as curvas da estradas.

4 -   Segundo as informações do poema, é possível identificar quem seria o eu poético?

     É possível deduzir que o eu poético é um adolescente apaixonado que está participando de uma excursão escolar.


Segundo as informações do poema e possível identificar quem seria o eu poético

Eu poético não é o mesmo que autor

Fazendo referência a esses dois elementos importantes da arte literária – o eu poético versus o autor –, discorreremos primeiro acerca do termo que pertence essencialmente ao gênero lírico – o eu poético, eu lírico.

Pois bem, ele se revela como a voz que fala, que expressa, em meio à criação poética. Dessa maneira, ele poderia ser confundido com o próprio autor? Para chegarmos a uma conclusão, voltemos nosso olhar para as palavras expressas a seguir, as quais o definem como:

Voz que expressa suas emoções no poema, um eu poético, simulado, inventado pelo poeta que não pode ser confundido com o próprio poeta.
Fonte: NICOLA, José de. Painel da literatura em língua portuguesa: teoria e estilos de época do Brasil e Portugal: livro do professor /José de Nicola; colaboração Lorena Mariel Menón. São Paulo: Scipione, 2006.

Ao analisá-las, reconhecemos que há uma diferença que demarca ambos os elementos, mas para ficar ainda mais claro, analisemos a criação de Carlos Drummond de Andrade, intitulada “Confidência do Itabirano”:

Confidência do itabirano

Alguns anos vivi em Itabira. Principalmente nasci em Itabira. Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro. Noventa por cento de ferro nas calçadas. Oitenta por cento de ferro nas almas.

E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho, vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes. E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,

é doce herança itabirana.

De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço: esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil, este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval; este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;

este orgulho, esta cabeça baixa...

Tive ouro, tive gado, tive fazendas. Hoje sou funcionário público. Itabira é apenas uma fotografia na parede.

Mas como dói!

Carlos Drummond de Andrade

Como sabemos, o poeta em questão é natural de Itabira, razão pela qual fazemos a seguinte indagação: haveria um ponto de contato, uma identificação, que aproxima autor (Drummond) e a voz que fala no poema? O fato é que mesmo havendo certa semelhança, ou seja, alguns pontos que porventura possam convergir, precisamos sempre fazer tal distinção – o autor representa aquela pessoa que cria por meio de sua capacidade imaginativa. Ao contrário do eu poético, que materializa toda essa emoção, mediante a magia e o encantamento que a arte poética nos proporciona, assumindo uma outra voz, uma outra identidade.

O eu lírico é um elemento fundamental da poesia. Quando lemos um poema, estamos diante de uma obra literária do gênero lírico, isto é, uma composição escrita que evidencia sobretudo a subjetividade – as sensações, emoções, a interioridade de um sujeito. Mas quem é esse sujeito? Será esse sujeito o próprio autor do poema? Seriam, então, todos os poemas uma parte biográfica da vida dos poetas?

Na verdade, não são os poetas que se enunciam nos versos. A poesia fala por meio do eu lírico.

Leia também: Epopeia – poema narrativo de larga extensão que conta sobre feitos heroicos

O que é eu lírico?

Eu lírico, eu poético ou sujeito lírico são nomenclaturas utilizadas para indicar a voz que enuncia o poema. O gênero lírico é aquele destinado a expressar emoções, sensações, disposições psíquicas, ou seja, a vivência de um eu em seu encontro com o mundo. Mas esse eu lírico, essa voz do poema, não é necessariamente o autor, mas sim um eu fictício, que pode ou não ter características do eu autoral.

Segundo as informações do poema e possível identificar quem seria o eu poético
O eu lírico é parte essencial do poema.

Em um famoso poema intitulado “Autopsicografia”, Fernando Pessoa nos diz: “O poeta é um fingidor./ Finge tão completamente/ Que chega a fingir que é dor/ A dor que deveras sente.” Veja: aquilo que é sentido pelo poeta, ou seja, pelo autor, não corresponde exatamente àquilo que foi escrito. Isso porque a arte poética modela, por meio da linguagem, essas experiências e impressões causadas no autor. E é por meio da voz do eu lírico que o poema enuncia-se.

Devemos lembrar que a potência da poesia não reside em um desabafo autoral, mas em uma enunciação de sentimentos que ultrapassam a vivência individual do poeta. Quando lemos um poema, nos conectamos com aquela emoção ou sensação, pois ela é universal.

Veja alguns exemplos:

Oração do Milho

Senhor, nada valho.

Sou a planta humilde dos quintais pequenos e das

lavouras pobres.

Meu grão, perdido por acaso,

nasce e cresce na terra descuidada.

Ponho folhas e haste, e se me ajudardes, Senhor,

mesmo planta de acaso, solitária,

dou espigas e devolvo em muitos grãos

o grão perdido inicial, salvo por milagre,

que a terra fecundou.

Sou a planta primária da lavoura.

Não me pertence a hierarquia tradicional do trigo

E de mim não se faz o pão alvo universal. [...]

(Cora Coralina)

O poema “Oração ao milho” é escrito em primeira pessoa e enunciado pela própria voz do milho. Não é a autora que se diz a planta primária da lavoura. É o próprio milho que “fala” no poema.

Lamento da noiva do soldado

Como posso ficar nesta casa perdida, neste mundo da noite,

sem ti?

Ontem falava a tua boca à minha boca... E agora que farei,

sem saber mais de ti?

Pensavam que eu vivesse por meu corpo e minh’alma! Todos os olhos são de cegos... Eu vivia

unicamente de ti!

Teus olhos, que me viram, como podem ser fechados? Aonde foste, que não me chamas, não me pedes,

como serei agora, sem ti?

Cai neve nos teus pés, no teu peito, no teu coração... Longe e solitário... Neve, neve...

E eu fervo em lágrimas, aqui!

(Cecília Meireles)

A voz desse poema de Cecília Meireles é a noiva do soldado, aquela que fica viúva antes mesmo de casar-se – é a que fica sabendo que o noivo morreu em combate. É a partir dessa voz que a poeta vai enunciar os sentimentos da ausência, do desespero, da tristeza, de se estar perpetuamente apartada de quem se ama.

Anos dourados

Parece que dizes Te amo, Maria Na fotografia Estamos felizes Te ligo afobada E deixo confissões No gravador Vai ser engraçado

Se tens um novo amor [...]

(Chico Buarque)

Chico Buarque é famoso por suas composições cuja voz é um eu lírico feminino. É o caso de “Anos dourados”: o eu lírico, Maria, é quem enuncia a letra da canção; é quem liga afobada para o ex-amor.

Veja também: Luís Vaz de Camões – considerado o maior poeta da língua portuguesa

Como identificar o eu lírico?

Como a composição poética envolve a criação artística por meio da linguagem, sempre que um eu enuncia-se no poema, uma nova entidade é criada. Não se trata do poeta que existe no mundo, que possui uma aparência, postura determinada diante dos fatos etc., mas de uma voz não material que modela e versifica as impressões vivenciadas pelo autor, transformando-as em versos. Leia o poema “Canção final”, de Carlos Drummond de Andrade.

Canção final

Oh! se te amei, e quanto! Mas não foi tanto assim. Até os deuses claudicam em nugas de aritmética. Meço o passado com régua de exagerar as distâncias. Tudo tão triste, e o mais triste é não ter tristeza alguma. É não venerar os códigos de acasalar e sofrer. É viver tempo de sobra sem que me sobre miragem. Agora vou-me. Ou me vão? Ou é vão ir ou não ir? Oh! se te amei, e quanto,

quer dizer, nem tanto assim.

(Carlos Drummond de Andrade)

Em primeira pessoa, o eu lírico não enuncia uma particularidade de sua vida, mas a dissolução de uma relação amorosa – que não necessariamente precisa partir de um dado biográfico. O eu lírico dá voz a um sentimento universal e não é necessário que o autor pessoalmente tenha vivido o que esse eu enuncia.

Por vezes, entretanto, o eu lírico está muito próximo da voz autoral, isto é, enuncia características que são, de fato, parte da vida do autor. Leia o poema “Confidência do Itabirano”, também de Drummond:

Confidência do Itabirano

Alguns anos vivi em Itabira. Principalmente nasci em Itabira. Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro. Noventa por cento de ferro nas calçadas. Oitenta por cento de ferro nas almas.

E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho, vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes. E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,

é doce herança itabirana.

De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço: esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil; este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval; este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;

este orgulho, esta cabeça baixa…

Tive ouro, tive gado, tive fazendas. Hoje sou funcionário público. Itabira é apenas uma fotografia na parede.

Mas como dói!

(Carlos Drummond de Andrade)

Nesse caso, Drummond explicita um dado biográfico: o eu lírico desse poema corresponde ao sujeito autor, nascido em Itabira, Minas Gerais, funcionário público, que contempla sua cidade natal a partir de um retrato e das características que dela herdou. Esse eu lírico itabirano é, portanto, uma voz autoral, em que a primeira pessoa corresponde de fato à vivência do autor. Sabemos disso porque ela revela uma relação muito particular com determinada localidade e situação.

Diferença entre eu lírico e narrador

Chamamos de narrador a entidade que conta uma história. De maneira semelhante ao eu lírico, ele também não deve ser confundido com o autor, isto é, a pessoa que assina a obra. Entretanto, os dois termos não são equivalentes: o eu lírico não conta uma história, mas dá voz a uma sensação, a um sentimento – a lírica é o gênero das emoções, por excelência.

Assim, ele é necessariamente um “eu”, uma primeira pessoa envolvida naquilo que é enunciado pelo poema. O narrador, por sua vez, não precisa necessariamente participar da história que conta – pode ser um narrador observador, por exemplo, que enuncia uma história que não lhe pertence, ou ainda um narrador onisciente, capaz de mergulhar nos mais íntimos pensamentos das personagens.

Acesse também: Parnasianismo – movimento literário que produziu apenas poesia

Exercícios resolvidos

Questão 1 - (ENEM 2018)

o que será que ela quer essa mulher de vermelho alguma coisa ela quer pra ter posto esse vestido não pode ser apenas uma escolha casual podia ser um amarelo verde ou talvez azul mas ela escolheu vermelho ela sabe o que ela quer e ela escolheu vestido e ela é uma mulher então com base nesses fatos eu já posso afirmar que conheço o seu desejo caro watson, elementar: o que ela quer sou euzinho sou euzinho o que ela quer só pode ser euzinho

o que mais podia ser

FREITAS, A. Um útero é do tamanho de um punho. São Paulo: Cosac Naify, 2013.

No processo de elaboração do poema, a autora confere ao eu lírico uma identidade que aqui representa a

A) hipocrisia do discurso alicerçado sobre o senso comum.

B) mudança de paradigmas de imagem atribuídos à mulher.

C) tentativa de estabelecer preceitos da psicologia feminina.

D) importância da correlação entre ações e efeitos causados.

E) valorização da sensibilidade como característica de gênero.

Resolução

Alternativa C. O eu lírico do poema de Angélica Freitas acredita elencar normas do funcionamento psicológico feminino: se escolheu uma roupa vermelha, não foi por acaso, mas porque queria chamar atenção dele, esse “euzinho”, esse homem que enuncia o poema.

Questão 2 - (ENEM 2019)

Isto

Dizem que finjo ou minto Tudo que escrevo. Não. Eu simplesmente sinto Com a imaginação.

Não uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo O que me falha ou finda, É como que um terraço Sobre outra coisa ainda.

Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio Do que não está ao pé, Livre do meu enleio, Sério do que não é.

Sentir? Sinta quem lê!

PESSOA, F. Poemas escolhidos. São Paulo: Globo, 1997.

Fernando Pessoa é um dos poetas mais extraordinários do século XX. Sua obsessão pelo fazer poético não encontrou limites. Pessoa viveu mais no plano criativo do que no plano concreto, e criar foi a grande finalidade de sua vida. Poeta da “Geração Orfeu”, assumiu uma atitude irreverente. Com base no texto e na temática do poema “Isto”, conclui-se que o autor

A) revela seu conflito emotivo em relação ao processo de escritura do texto.

B) considera fundamental para a poesia a influência dos fatos sociais.

C) associa o modo de composição do poema ao estado de alma do poeta.

D) apresenta a concepção do Romantismo quanto à expressão da voz do poeta.

E) separa os sentimentos do poeta da voz que fala no texto, ou seja, do eu lírico.

Resolução

Alternativa E. O poema versa justamente sobre a separação entre o que sente o autor e aquilo que é enunciado pelo eu lírico. Não é o sujeito que escreve que necessariamente sente aquilo que está escrito: ele inventa, sente “com a imaginação”, não faz de suas palavras um espelho biográfico.

Por Luiza Brandino
Professora de Literatura