Por que sexo anal é bom

Não é difícil encontrar na internet vários textos que prometem ajudar os homens a convencer suas parceiras a fazer sexo anal. A prática costuma ser um dos desejos masculinos mais frequentes. Afinal, por que eles gostam tanto de sexo anal?

Para a psicóloga e sexóloga Carla Cecarello, também coordenadora do projeto de orientação sexual AmbSex (Ambulatório de Sexualidade), a resposta aponta para três motivos principais. Em primeiro lugar, por ser uma região estreita, o ânus proporciona uma pressão maior no pênis, que causa grande excitação e prazer ao homem. Além disso, existe a influência da predileção nacional pelo bumbum e também a sensação de domínio que agrada. 

Veja também: 

Como durante a penetração anal a mulher evita se mexer muito, para não ter dor, praticamente todos os movimentos ficam por conta do parceiro. “Ele tem total controle da situação, isso dá a ele um poder nesse momento, que é algo bastante excitante”, explica Carla.

Existem estudos que revelam que o sexo anal tem se tornado cada vez mais comum. Até os anos 1990, entre 25% e 35% das mulheres e homens norte-americanos diziam já ter experimentado a prática. Cerca de duas décadas depois, esses números aumentaram para 40% a 45%, dependendo da faixa etária, segundo a Pesquisa Nacional de Saúde e Comportamento Sexual, conduzida pela Universidade de Indiana, nos Estados Unidos.

No Brasil, o sexo anal é uma variação bastante apreciada. Em um levantamento realizado com 37 países a pedido da marca de preservativos Durex, 18% dos brasileiros declararam praticar sexo anal, enquanto a média mundial foi de 6%.

Apesar da popularidade, o tema ainda carrega preconceitos. “A prática do sexo anal é, provavelmente, o maior tabu sexual existente em nossa sociedade. A penetração pelo ânus parece, para algumas pessoas, como uma prática cruel e suja”, diz o médico urologista e sexólogo Celso Marzano, autor do livro “O Prazer Secreto” (Editora Eden) sobre o assunto.

Dor e falta de conhecimento

Para o escritor Ricardo Kelmer, 50, que mora em São Paulo e costuma discorrer sobre o tema em seus textos, o tabu cultural também acaba contribuindo para o interesse dos homens pelo sexo anal. “Afinal, o que é proibido é mais gostoso”, acredita. Apesar de achar a penetração anal mais gostosa e excitante do que a vaginal, Kelmer diz que é fundamental que a mulher também goste para que ele sinta prazer.

Enquanto os homens tentam de tudo para conseguir sexo anal, muitas mulheres fogem da prática, principalmente por causa do medo da dor. Um receio que não é infundado. Em uma pesquisa feita em 2011 com mais de 2 mil mulheres heterossexuais pela Universidade do Zagreb, na Croácia, 49% das entrevistadas que experimentaram sexo anal interromperam a primeira vez porque “era muito doloroso para continuar”. Outras 17% disseram que sentiram dor ou desconforto, porém prosseguiram mesmo assim. Somente 25% relataram que a primeira experiência foi prazerosa.

“De maneira geral, o sexo anal não deve ser dolorido. Se doer, é porque o casal está fazendo algo errado”, alerta o médico Celso Marzano. A falta de conhecimento sobre a melhor forma de desfrutar dessa variante sexual costuma ser o principal impedimento para o prazer. Para se ter uma ideia, no estudo da Universidade do Zagreb, 52% das mulheres que fizeram sexo anal não usaram lubrificante na primeira vez.

A sexóloga Carla Cecarello, que ficou famosa com um vídeo no YouTube no qual explica de maneira didática e bem-humorada como iniciar a prática, reforça que a desinformação ainda é um obstáculo. Muitos homens não sabem que o ânus reage com espasmos aos primeiros toques. “Esse não é o momento de fazer a penetração. Se forçar nessa hora, vai doer. Tem de encostar o pênis e ficar sem fazer nada, esperando que o ânus relaxe", ensina.

Submissão e conquista

Além da dor, outro aspecto que às vezes afugenta as mulheres desse tipo de sexo é o temor de colocar-se em uma posição de excessiva submissão. “Muitas acreditam que se elas cedem à prática do sexo anal é porque estão em uma condição de submissão”, diz Carla Cecarello.

O médico ginecologista, sexólogo e professor do Ambulatório de Sexualidade da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) Amaury Mendes Junior explica que a relação de dominante e dominado no sexo anal tem uma ligação com a vida sexual dos primeiros hominídeos. Esses seres primitivos andavam de quatro e, portanto, copulavam por trás, independentemente da vontade da fêmea.

"Na época de nossa colonização, os jesuítas proibiram o coito na posição de quatro, pois diziam que somente os animais copulavam dessa forma, e apregoavam a posição conhecida como papai e mamãe", conta.

Segundo o sexólogo, depois que o coito exigiu "olhos nos olhos" a relação sexual evoluiu e passou a envolver também afeto, emoção e sedução. Nesse novo cenário, a prática anal ganhou outra conotação. "A fêmea começou a usar de atributos para a conquista do macho e o sexo anal foi resgatado em prol da submissão feminina pelo poderio do macho, seu dono, como forma de apimentar o sexo", diz Amaury Mendes.

Com a maior igualdade dos gêneros nos dias atuais, o professor da UFRJ acredita que a situação mudou. "O sexo anal não é somente uma carta na manga da mulher para prender o homem, mas também uma forma de exercer uma sexualidade mais livre e sem preconceitos", afirma.

Para a sexóloga Carla Cecarello, a condição de submissão apenas existe se a mulher aceita fazer sexo anal sem nenhuma vontade. "Se ela pratica a relação anal e tem prazer com isso, não tem submissão nenhuma. Porém, fazer só para satisfazer o outro revela total submissão", defende. 

Dicas para um sexo anal com mais prazer e menos dor

  • Lubrificante e preservativo: por facilitar infecções e a contaminação de doenças, o sexo anal deve ser sempre praticado com preservativo, mesmo em relacionamentos estáveis. Como o ânus não tem lubrificação natural, é fundamental o uso de lubrificantes à base de água, que devem ser empregados com abundância para evitar fissuras e outros traumas.
  • Comece com os dedos: a penetração nunca deve ser iniciada pelo pênis. O ideal é fazer um relaxamento gradual do ânus com a introdução dos dedos (começando apenas pela ponta do dedo até chegar a introduzir mais de um), em movimentos lentos, circulares e delicados. Quando ocorrer o espasmo ou contração do ânus, deve-se parar o movimento e aguardar o relaxamento para prosseguir.
  • Toque o clitórisà medida que acontece a penetração anal, o homem ou a própria mulher pode estimular o clitóris para que seja possível chegar ao orgasmo. Além de intensificar o prazer da mulher, essa é uma maneira de deixá-la mais relaxada durante a prática.
  • De ladinho: para quem está começando no sexo anal, recomenda-se evitar posições em que penetração seja muito profunda, como “de quatro” ou com a mulher por cima. O melhor é começar de lado, com uma penetração menos direta, até que o casal tenha experiência suficiente para partir para outras posições.
  • Cuidado com as dimensões: apesar de o tamanho do pênis não ser um impedimento para o sexo anal, desde que haja o relaxamento adequado do ânus, é importante não exagerar na profundidade da penetração ou na introdução de outros objetos. Em média, o reto tem 17 cm, ou seja, um pênis ou objeto maior do que isso pode provocar ferimentos sérios.
  • Sem lavagem: apesar do risco natural de escape de fezes, não é recomendado passar por uma lavagem intestinal antes do sexo anal. Isso porque esse procedimento deixa a mucosa anal mais sensível, portanto mais suscetível a bactérias, vírus e infecções. Fazer uma alimentação leve pode ajudar. E evite o sexo anal se tiver hemorroidas ou intestino preso.

Este artigo está disponível também em: English, español, Deutsch, français

  • O ânus não produz lubrificação naturalmente, portanto, tenha um lubrificante com você

  • Comece devagar, inserindo um dedo e vá expandindo para um objeto maior

  • Tente evitar comer logo antes de fazer sexo anal

As formas de viver e experimentar a sexualidade humana são amplas e diversas. Para usufruir de práticas sexuais seguras e prazerosas é essencial ter acesso a informação confiável, que nos permita tomar decisões baseadas em informação—e ciência. Neste sentido, toda prática sexual deve estar baseada no consentimento das pessoas envolvidas.

Neste artigo falaremos sobre as relações sexuais anais: um pouco de história, algumas recomendações para a prática e os riscos que existem.

O sexo anal na história

Nos anais da história, há diversas encontradas evidências de que o sexo anal é de fato uma prática antiga. Na América Latina há diversas descobertas de esculturas de pequenas figuras humanas em atos sexuais vaginais, orais e anais. Estas figuras pertenciam a sociedades pré-hispânicas que habitavam o continente americano antes da conquista e colonização pelos espanhóis (1).

Por exemplo, foram encontradas à noroeste da Cidade do México, onde vivia a cultura Tlatilco, pequenas representações de figuras humanas tendo relações sexuais, datadas do ano 1000 A.C. (1). Também se descobriu na costa norte peruana esculturas de figuras humanas em relações sexuais orais, vaginais e/ou anais. Tais figuras pertenciam à cultura Mochica, datadas do ano 700 D.C. (1). Na Colômbia foi encontrada uma pequena escultura em cerâmica da cultura Tumaco-La Tolita que representava um homem com dilatação anal (1).

Na Europa, há registro de práticas sexuais anais na Roma Antiga. Apesar de os historiadores afirmarem que os romanos eram abertos a diversas práticas sexuais, havia restrições para para a prática anal de acordo com o status que cada pessoa tinha na sociedade. Em Roma, a passividade nos homens (ser penetrado analmente por outro homem) era considerado um ato feminino e, portanto, condenável (2).

Na Idade Média, devido à influência da igreja católica, a prática anal era condenada porque se considerava que o sexo devia ser entre homens e mulheres, apenas para fins reprodutivos. No entanto, especula-se que integrantes do clero, que se supunham celibatários, praticavam relações sexuais anais.

Baixe o Clue agora e registre seu apetite sexual, entre outros sintomas e emoções

App StorePlay Store

  • Por que sexo anal é bom
  • Por que sexo anal é bom

Por que sexo anal é bom

Por que sexo anal é bom

Por que sexo anal é bom

O uso adequado de camisinhas é fundamental para uma prática sexual anal segura, assim como o uso de lubrificantes. Nos últimos anos, houve um crescimento de diferentes tipos de lubrificantes, incluindo alguns com sabor e outros com aditivos, como o óleo de CBC, um dos principais componentes da cannabis (6).

Para o caso de sexo oral-anal (cunilíngua/cunete), recomenda-se usar uma barreira de látex e também a higienização externa do ânus. É desaconselhável levar os dedos à boca caso eles tenham sido usados para penetração anal. Caso queira compartilhar seus brinquedos sexuais com outras pessoas, é importante colocar novos preservativos neles entre os usos (7).

Preparando-se para o sexo anal: a limpeza

Muitas pessoas preferem usar enemas ou duchas anais (ou chucas"fazer a chuca", um jargão brasileiro) antes das relações sexuais para sentirem-se mais cômodas e evitarem sensações (e surpresas!) indesejadas. O enema é feito introduzindo-se líquidos no reto, através do ânus, com o fim de esvaziar o conteúdo intestinal e limpar o reto próximo ao ânus. De todo modo, evite o uso excessivo de duchas anais. O uso constante de duchas e enemas pode causar lesões nas mucosas e criar um ambiente que possibilita a transmissão de IST (8).

Outras medidas simples de higiene que você pode tomar para limpar antes do sexo anal:

  • Tente evitar comer logo antes da transa, assim como ingerir café, bebidas com cafeína ou grandes quantidades de álcool.

  • No geral, alimentos ricos em fibras ajudam a manter a área ao redor do ânus limpa. O mesmo vale para dietas ricas em proteínas, que endurecem a matéria fecal.

  • Vá ao banheiro e esvazie seus intestinos cerca de 30 a 60 minutos antes do sexo. Uma pequena quantidade de água morna e sabão, ou um lenço umedecido (sem perfume, hipoalergênico), é eficaz na limpeza da região anal.

Tenha em mente que o sexo sempre envolve fluidos corporais e algumas pessoas podem ter medo de ficarem “sujas”. Isso também se aplica ao sexo anal, mesmo com as medidas de precaução. Tente criar um ambiente confortável conversando com sua parceria e se familiarizando com o que esperar. Algumas maneiras de aumentar o conforto incluem deitar-se sobre uma toalha, usar luvas de látex ou limpar-se durante o processo.

Riscos das relações sexuais anais

A zona do ânus e do reto são sensíveis e podem produzir fissuras no momento da penetração e que podem favorecer a entrada de germes e ocasionar hemorragias. A mucosa do reto tem ainda uma alta capacidade de absorção, o que pode aumentar a propagação de infecções (4).

Deste modo, além do HIV pode haver o contágio de outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) como gonorreia, hepatites (A, B e c), sífilis e herpes genital—estas duas últimas são transmitidas através do contato pele com pele. Somado a tudo isto, a prática de relações anais sem preservativo pode levar à propagação de parasitas como a Giardia, amebas intestinais e a bactéria E. Coli através dos restos de material fecal. A Giardia pode provocar infecções no intestino delgado e tem como principal sintoma a diarreia. (5, 4).

Reduzindo os riscos de HIV

Além do uso adequado de preservativos como principal recomendação para as relações sexuais anais seguras, você também pode contar com os seguintes tratamentos e medicamentos para evitar o contágio do HIV:

  • Profilaxia Pré-Exposição de risco (PrEP): tratamento indicado para pessoas HIV negativas com risco maior de contrair o HIV. A redução do risco pode ser de até 90%. Adicionalmente, é recomendado o uso conjunto de outros métodos de prevenção, como a camisinha (4).

  • Profilaxia Pós-Exposição (PEP): medicamento utilizado em situações de emergência que deve ser tomado dentro de 72 horas após a relação sexual. Neste tratamento tomam-se pílulas antirretrovirais para previnir uma infecção depois de uma possível exposição ao vírus (4).

  • Também há tratamentos como a terapia antirretroviral (TARV), utilizada quando há a infecção por HIV e que reduz a carga viral no sangue. O TARV pode diminuir em até 96% o risco de contágio a uma pessoa HIV negativa (4).

A sexualidade humana é um amplo espectro de experiências que pode variar segundo as preferências e escolhas de cada pessoa. O autocuidado e o cuidado com parceiros(as) sexuais, junto de informação acessível e confiável, são passos essenciais para práticas sexuais seguras e prazerosas.