Apenas uma palavra do poema nos faz ter certeza de que está falando da Língua Portuguesa qual e ela


Etapa 1 19 Língua viva, originalidade e identidade cultural Neste capítulo, você irá descobrir a origem da língua portuguesa; conhecerá algumas das batalhas de que ela participou antes que chegasse até nós, bem como as marcas desses confrontos e de encontros com outros povos, razão de suas variadas maneiras de se manifestar; saberá que há línguas que morreram e entenderá como a nossa se mantém viva até hoje. Além disso, tomará contato com os estudos literários, que irão abordar especialmente dois grandes nomes da literatura brasileira. Desfile da escola de samba Estação Primeira de Mangueira, no Rio de Janeiro (RJ), em 2007. Ismar Ingber/Pulsar Imagens DEBATER Leiam a seguir o título do samba-enredo de 2007 da Mangueira. Depois respodam às questões em grupo. “Minha pátria é minha língua, Mangueira meu grande amor. Meu samba vai ao Lácio e colhe a última flor.” 1. Apenas observando o título, qual tema vocês acham que será desenvolvido no samba-enredo? 2. Algum de vocês sabe dizer o que é o Lácio? Se não, lancem alguma hipótese a respeito do que pode ser. Percebam que a palavra está escrita com inicial maiúscula. Capítulo 2 LÍNGUA PORTUGUESA Etapa 1 LC_E1_U1_Cap2_Port.indd 19 2/5/14 5:36 PM Língua Portuguesa 20 LER CANÇÃO Agora, leia o samba-enredo. Depois responda às questões. Minha pátria é minha língua, Mangueira meu grande amor. Meu samba vai ao Lácio e colhe a última flor Quem sou eu? Tenho a mais bela maneira de expressar Sou Mangueira, uma poesia singular Fui ao Lácio e nos meus versos canto a última flor Que espalhou por vários continentes Um manancial de amor Caravelas ao mar partiram Por destino encontraram o Brasil… Nos trazendo a maior riqueza A nossa língua portuguesa Se misturou com o tupi, tupinambrasileirou Mais tarde, o canto do negro ecoou Assim a língua se modificou Eu vou dos versos de Camões Às folhas secas caídas de Mangueira É chama eterna, dom da criação Que fala ao pulsar do coração Cantando eu vou Do Oiapoque ao Chuí ouvir A minha pátria é minha língua Idolatrada obra-prima te faço imortal Salve… Poetas e compositores Salve também os escritores Que enriqueceram a tua história Ó meu Brasil... Dos filhos deste solo és mãe gentil Hoje a herança portuguesa nos conduz À Estação da Luz! Vem no vira da Mangueira, vem sambar Meu idioma tem o dom de transformar Faz do Palácio do Samba uma casa portuguesa É uma casa portuguesa com certeza. Lequinho, Júnior Fionda, Aníbal e Amendoim. Samba-enredo da Mangueira, 2007. 1. O que a letra do samba-enredo afirma sobre “misturas” ocorridas na língua portuguesa? 2. Em sua opinião, a língua portuguesa foi um bom tema a ser homenageado por um samba-enredo no Car- naval? Justifique. LER POEMA O samba-enredo lido faz uma homenagem à língua portuguesa, com refe- rências a diversas homenagens que outros poetas fizeram à língua. O principal poeta citado nas entrelinhas é Olavo Bilac, que imortalizou um poema sobre a língua portuguesa. Leia-o pelo menos duas vezes antes de consultar o glossário. Língua portuguesa Última flor do Lácio, inculta e bela, És, a um tempo, esplendor e sepultura: Ouro nativo, que na ganga impura A bruta mina entre os cascalhos vela… Amo-te assim, desconhecida e obscura. Tuba de alto clangor, lira singela, Que tens o trom e o silvo da procela, E o arrolo da saudade e da ternura! Amo o teu viço agreste e o teu aroma De virgens selvas e de oceano largo! Amo-te, ó rude e doloroso idioma, Em que da voz materna ouvi: “meu filho!”, E em que Camões chorou, no exílio amargo, O gênio sem ventura e o amor sem brilho! BILAC, Olavo. Tarde. Disponível em: . Acesso em: 15 dez. 2011. GLOSSÁRIO Arrolo: acalanto. Camões: poeta português, considerado por muitos o maior em nossa língua. Cascalho: lasca de pedra. Clangor: som forte. Esplendor: brilho, grandiosidade. Ganga: resíduo ou resto não aproveitável. Gênio sem ventura: falta de sorte. Inculto: que não foi cultivado, sem cuidados. Lácio:regiãodaItáliaondesurgiuRoma.Nelase falavaolatim,idiomaquedeuorigemàlíngua portuguesa. Lira: instrumento de cordas. Nativo: natural de. Obscuro: difícil de entender. Procela: tempestade no mar. Rude: não cultivado. Silvo: assobio. Singelo: simples. Trom: grande ruído. Tuba: trombeta de metal. Velar: ocultar, esconder. Viço agreste: vigor selvagem. LC_E1_U1_Cap2_Port.indd 20 2/5/14 5:36 PM Etapa 1 21 Olavo Bilac COMPREENSÃO TEXTUAL I Você deve ter achado difícil compreender o poema de Bilac, mas, a partir dele, você entenderá muitas outras referências que são feitas à nossa língua. Para ampliar um pouco mais a sua compreensão, responda às questões a seguir, comparando o poema ao samba-enredo. 1. O que o título revela sobre o poema? 2. Apenas uma palavra do poema nos faz ter certeza de que se está falando da língua portuguesa. Qual é ela? 3. Explique com suas palavras o que entendeu sobre o modo como o poeta vê a língua portuguesa e o que sente por ela. 4. A primeira estrofe desse poema é bastante difícil de entender. Veja o que a escritora Lygia Fagundes Telles disse a esse respeito quando tomou contato com o poema na juventude: […] Fiquei pensando, mas o poeta disse sepultura?! O tal de Lácio eu não sabia onde ficava mas de sepultura eu entendia bem, disso eu entendia, repensei baixando o olhar para a terra. Se escrevia (e já escrevia) pequenos contos nessa língua, quer dizer que era a sepultura que esperava por esses meus escritos? Fui falar com meu pai. […] Olha aí, pai, o poeta escreveu com todas as letras, nossa língua é sepultura mesmo, tudo o que a gente fizer vai pra debaixo da terra, desaparece! Calmamente ele pousou o cigarro no cinzeiro ao lado. Pegou os óculos. O soneto é muito bonito, disse me encarando com severidade. Feioéisso,filha,issodequererrenegarapróprialíngua.Sevocêchegar a escrever bem, não precisa ser em italiano ou espanhol ou alemão, você ficará na nossa língua mesmo, está me compreendendo? TELLES, Lygia Fagundes. Durante aquele estranho chá: perdidos e achados. Rio de Janeiro: Rocco, 2002. p. 109-111. Acervo Iconographia Olavo Bilac (1865-1918) foi um dos poetas mais lidos e apreciados no Brasil no final do século XIX e início do XX. No Rio de Janeiro, cidade onde nasceu e viveu durante quase toda a vida, exerceu várias atividades, mas dedicou- -se especialmente ao jornalismo e à literatura. É considerado o maior representante do movimento parnasiano no Brasil e foi um dos fundadores da Acade- mia Brasileira de Letras. Além de “Língua Portuguesa”, poema que você leu neste capítulo e que foi publicado no livro Tarde (1919), são famosos também os poemas “Via Láctea” e “Profissão de Fé”, ambos publicados no livro Poesias, de 1888. Lygia Fagundes Telles Lygia Fagundes Telles (1923-) é considera- da uma das maiores escritoras brasileiras do século XX. Nasceu em São Paulo, mas passou boa parte da infância no interior do estado. For- mou-se em Direito e Educação Física pela Universidade de São Paulo. A autora experimentou quase todos os gêne- ros literários para construir uma obra fortemente marcada pelo engajamento social e pela força da imaginação. Entre os livros que escreveu destacam-se os romances Ciran- da de pedra (1954) e Asmeninas(1973). ©by Lygia Fagundes Telles LC_E1_U1_Cap2_Port.indd 21 2/5/14 5:36 PM Língua Portuguesa 22 a) Não saber o que era “o tal de Lácio” impossibilitou a compreensão do poema pela menina-escritora? Justifique. b) Que preocupação a mensagem do poema trouxe a ela? c) O que o pai queria ensinar à menina quando disse “Feio é isso, filha, isso de querer renegar a própria língua”? 5. Observe os versos a seguir e responda: os compositores do samba-enredo e o poeta têm a mesma opinião quanto à disseminação da língua? Justifique. (I) Fui ao Lácio e nos meus versos canto a última flor Que espalhou por vários continentes Um manancial de amor (II) Última flor do Lácio, inculta e bela, És, a um tempo, esplendor e sepultura: 6. Leia os versos seguintes e compare-os. O samba-enredo expressa a mesma opinião do poema de Bilac quan- to à ternura e docilidade da língua? Justifique. (I) Amo-te assim, desconhecida e obscura, Tuba de alto clangor, lira singela, Que tens o trom e o silvo da procela, E o arrolo da saudade e da ternura! (II) Quem sou eu Tenho a mais bela maneira de expressar Sou Mangueira, uma poesia singular Fui ao Lácio e nos meus versos canto a última flor Que espalhou por vários continentes Um manancial de amor 7. A que pode estar se referindo o poema quando diz que nossa língua tem “o aroma de virgens selvas e de oceano largo”? LC_E1_U1_Cap2_Port.indd 22 2/5/14 5:36 PM Etapa 1 23 O PORTUGUÊS QUE DESEMBARCOU NO BRASIL: UMA LÍNGUA ANTIGA, DE REGIÕES DISTANTES, RESULTANTE DE MUITAS BATALHAS A história da nossa língua é muito antiga e vem de longe. A base primordial de sua formação é o latim, mais especificamente o latim falado, tanto em Roma quanto nas regiões abrangidas pelo Império Romano, que existiu entre os séculos I e V. O latim foi imposto aos povos dominados pelos romanos, mas é evidente que houve resistência dos falares locais. Esse latim foi se modificando e deu origem a várias outras línguas além da nossa: o italiano, o espanhol, o francês, o catalão, entre outras. Sobre a história das invasões estrangeiras e seu resultado em nossa língua, Adriano da Gama Kury afirma: Enquanto o português se formava, no noroeste da península Ibérica, numa transformação gradual do latim popular trazido pelos conquistadores romanos, o território de Portugal sofreu invasões de povos estrangeiros que não lograram impor sua língua, mas nele deixaram a marca da sua passagem, enriquecendo-lhe o vocabulário. Primeiro foram os árabes, que estiveram na península Ibérica do século VIII ao século XV, invasão que deu margem à grande epopeia da Reconquista, na qual os cristãos lutaram contra os muçulmanos (os “infiéis”, como os chamavam). Em Portugal, a Reconquista durou até meados do século XIII, quando o Algarve, no sul, foi definitivamente incorporado ao reino português, depois de batalhas memoráveis. É natural que num período tão longo tenham entrado em nosso léxico centenas de vocábulos, muitos dos quais iniciados por al- (que é o artigo definido árabe, por vezes reduzido à vogal a). Pela variedade dos campos abrangidos pode-se avaliar a influência da cultura árabe. Você reconhecerá como vindas do árabe muitas palavras nesta pequena amostra; outras lhe causarão surpresa, sem dúvida: açafrão, acelga, açougue, açude, alarde, alazão, alcachofra, alcatra, álcool, aldeia, alface, alfaiate, alfinete, algodão, alicate, almôndega, argola, armazém, arroba, azar, azeite, café, cenoura, chafariz, fatia, fulano, garrafa, mameluco, mesquinho, papagaio, recife, refém, sofá, tarifa, xadrez, xarope, zero. KURY, Adriano da Gama. Para falar e escrever melhor o português. Rio de Janeiro: Lexikon, 1989. p. 226-227. Adaptado. Além do Brasil, há mais oito países cuja língua oficial é o português: Portugal, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Angola, São Tomé e Príncipe, Timor Leste e Guiné Equatorial. EmMacau.naChina,oportuguêsétambémumadaslínguasoficiais.Observeomapaaseguir: Países e região (Macau) que têm o português como língua nacional ou oficial 0 3600 7200 km N S L O Ilustração digital: Mario Yoshida Fonte: Atlas geográfico escolar. 5. ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2009. LC_E1_U1_Cap2_Port.indd 23 2/5/14 5:36 PM Língua Portuguesa 24 O PORTUGUÊS BRASILEIRO: ENCONTROS DE DIFERENTES FALARES Com a chegada dos portugueses ao Brasil em 1500, o surgimento de novos falares foi inevitável: indígenas e posteriormente africanos passaram a falar a língua portuguesa, que, por sua vez, adquiriu novas expressões e vocábulos trazidos por esses povos. Só para que você tenha uma ideia de como a língua portuguesa se modificou com os encontros linguísticos, há em nossa língua aproximadamente 20 mil vocábulos de origem tupi que constam em dicionários. Observe as expressões nos textos a seguir. LER TEXTOS CIENTÍFICOS Texto 1 Leia a seguir alguns exemplos, extraídos do livro Método moderno de tupi antigo, escrito pelo professor Eduardo de Almeida Navarro: “Reparando bem, todo mundo tem pereba, só a bailarina que não tem”, diz uma canção de Chico Buarque de Holanda. Pereba, do tupi, significa ferida. “Pare com este nhenhenhém”. A expressão vem do verbo nhe’eng (falar, piar) e significa pare de ficar falando, de falar sem parar, de resmungar. O velho jogo de peteca, que é um pequeno saco cheio de areia ou serragem sobre o qual se prendem penas de aves, tem esse nome devido ao verbo petek – golpear ou bater com a mão espalmada. É com a palma da mão que se joga o brinquedo. “Velha coroca” é uma velha resmungona. O termo nasceu do verbo kuruk, que significa resmungar. O verbo “cutucar”, em português, origina-se do tupi kutuk, cujo significado original – furar, espetar – modificou-se ligeiramente. Em português, cutucar é tocar com a mão ou com o pé. “Estar jururu” é estar melancólico, tristonho, cabisbaixo. O termo indígena aruru, de onde surgiu a palavra, tem o mesmo significado. Várias palavras mantiveram pronúncia e significado praticamente originais: mingau (papa preparada geralmente com farinha de mandioca), capim, mirim (que significa pequeno) e socar (do verbo sok, com o mesmo significado). A expressão “estar na pindaíba” muito brasileiro conhece: significa estar em graves dificuldades financeiras. É uma expressão que vem das palavras pinda’yba – vara de pescar (pindá, isoladamente, significa anzol). Antigamente, quando a pobreza abatia as populações ribeirinhas, era comum se tentar tirar a subsistência do rio, pescando para comer ou para vender o pescado. Segundo os pesquisadores, a expressão nasceu no período colonial brasileiro, em que o tupi em sua forma evoluída, conhecida como “língua geral”, era falado pela maioria dos brasileiros. NAVARRO, Eduardo de Almeida. Método moderno de tupi antigo. São Paulo: Global, 2006. Texto 2 Você sabia? História da língua portuguesa Você sabia... qual a extensão da influência africana no português brasileiro? Por quase 300 anos, o Brasil recebeu milhares e milhares de africanos, aqui trazidos como escravos para o trabalho rural ou na mineração. Vieram negros de praticamente toda a África, mas deles destacam-se dois grandes grupos: o guineano-sudanês e o banto. Esses povos falavam muitas línguas, das quais quatro exerceram razoável influência na nossa. Do primeiro grupo, podemos mencionar o iorubá ou nagô (Nigéria) e o eue ou jeje (Benim). Do segundo, o quimbundo (Angola) e o quicongo (Congo). Uma série extensa de palavras oriundas dessas línguas incorporou-se ao nosso léxico, especialmente as relativas a: ○ divindades, conceitos e práticas religiosas, ainda hoje utilizadas na umbanda, quimbanda e candomblé (inclusive essas três palavras), Oxalá, Ogum, Iemanjá, Xangô, pombajira, macumba, axé, mandinga, canjerê, gongá (ou congá); LC_E1_U1_Cap2_Port.indd 24 2/5/14 5:36 PM Etapa 1 25 ○ comidas e bebidas (muitas delas, originariamente, comidas e bebidas de santo, que depois se popularizaram na nossa culinária, notadamente na baiana) – quitute, vatapá, acarajé, caruru, mungunzá, quibebe, farofa, quindim, canjica e, possivelmente, cachaça; ○ topônimos, isto é, nomes de lugares e locais – Caxambu, Carangola, Bangu, Guandu, Muzambinho, São Luís do Quitunde; cacimba, quilombo, mocambo, murundu, senzala; ○ roupas, danças e instrumentos musicais – tanga, miçanga, caxambu, jongo, lundu, maxixe, samba, marimba, macumba (antigo instrumento de percussão), berimbau; ○ animais, plantas e frutos – camundongo, caxinguelê, mangangá, marimbondo, mutamba, dendê, jiló, quiabo; ○ deformidades, doenças, partes do corpo – cacunda, capenga, calombo, caxumba, banguela, calundu, bunda. [...] Enquanto a grande maioria dessas palavras entrou há muito tempo na língua, uma outra é de chegada mais recente: rastafari, em que o elemento de origem árabe ras é título de chefe etíope (da Etiópia, nordeste africano). Designa tipo de penteado muito em moda nos últimos tempos no Brasil. A África continua inspirando… [...] HERNANDES, Paulo. Você sabia? n. 131, 27 jun. 2008. Disponível em: . Acesso em: 5 dez. 2011. COMPREENSÃO TEXTUAL II 1. Destaque, nos dois textos, as palavras que mais o surpreenderam. Oralmente, apresente-as a seus colegas indicando a origem dos vocábulos escolhidos (tupi/africana). 2. Em grupo, consultem um mapa do continente africano para localizar as regiões de influência em nossa língua, mencionadas no texto 2. 3. Localize no texto 1 os vocábulos em tupi correspondentes às seguintes expressões: “bica d’água”, “golpear ou bater com a mão”, “vara de pescar”. LÍNGUAS QUE MORREM Diz-se que uma língua “é morta” quando já não é fala- da por mais nenhum povo. O latim, por exemplo, do qual se originou a língua portu- guesa e outras tantas, atual- mente é uma língua morta, embora ainda seja estudada. O problema que envolve a morte de uma língua é que muitos conhecimentos e uma cultura inteira ficam também ameaçados de extinção. Crianças xavante aprendem sua história e tradição em escola no Amazonas, 1987. Ricardo Azoury/Olhar Imagem LC_E1_U1_Cap2_Port.indd 25 2/5/14 5:36 PM Língua Portuguesa 26 Leia a notícia a seguir, que faz referência à extinção de línguas indígenas no Brasil: Xetá e Xipaia, no Brasil, têm um falante cada Algumas línguas indígenas estão literalmente à beira da extinção no Brasil porque as poucas pessoas que as falam simplesmente não têm para quem transmitir o conhecimento. No Paraná há só um falante da língua do povo xetá. "E ele é um solteirão, que dificilmente vai passar sua cultura pra frente", conta Aryon Rodrigues, do Laboratório de Línguas Indígenas da Universidade de Brasília. Segundo o pesquisador, o caso se repete na região de Altamira, no Pará, onde somente uma mulher xipaia fala a língua de seu povo. No mesmo local, entre os curuaia, vivem somente dois falantes. "A situação aqui é muito ruim", diz. Folha de S.Paulo, 20 set. 2007. Disponível em: . Acesso em: 14 dez. 2012. EXPRESSÃO LITERÁRIA E PRESERVAÇÃO LINGUÍSTICO-CULTURAL Os indicativos de que uma língua se mantém viva, atuante, são, pois, as manifestações de sua criatividade, espontaneidade, natureza mais livre e solta, tanto em suas práticas orais (preservadas na poesia das canções, e em outras expressões populares) como tam- bém de seu patrimônio, sua herança escrita. A produção escrita põe em relevo os traços de identidade de um povo e os valoriza, especialmente quando expressa de modo artístico os sentimentos, percepções filosóficas sobre o ser e a existência, por meio de livros e textos, que servem à reflexão, à avaliação crítica sobre os fatos da vida e também ao prazer intelectual. Costuma-se dizer que a língua empregada de modo artístico produz literatura. Dizen- do de outro modo, literatura é “a arte da palavra”. Você terá contato, neste livro, com impor- tantes textos literários brasileiros, e estudará o modo especial pelo qual eles se constituem. A literatura é importante por vários fatores. Segundo uma estudiosa dessa área, Alice Vieira: A literatura tem sido, ao longo da história, uma das formas mais importantes de que dispõe o homem não só para o conhecimento do mundo, mas também para a expressão, criação e recriação desse conhecimento. Lidando com o imaginário, lidando com a emoção, a literatura satisfaz sua necessidade de ficção, de busca de prazer. Conhecimento e prazer fundem-se na literatura, e na arte em geral, impelindo o homem ao equilíbrio psicológico, e faz reunir as necessidades primordiais da humanidade: a aprendizagem da vida, a busca incessante, a grande aventura humana. VIEIRA, Alice. O prazer do texto: perspectivas para o ensino de literatura. São Paulo: EPU, 1978. p. XI. O artista da palavra é, portanto, o escritor. Como ser humano participante de determina- da sociedade, o artista também exprime em sua obra uma postura em relação à realidade e às aspirações humanas. Segundo o poeta norte-americano Ezra Pound: A literatura não existe no vácuo. Os escritores, como tais, têm uma função social definida, exatamente proporcional à sua competência como escritores. Essa é a sua principal utilidade. PO...