Por que nao votar em lula

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Por que nao votar em lula
Lula e Bolsonaro - Crédito: Montagem com fotos de Ricardo Stuckert (Instituto Lula) e de Clauber Cleber Caetano (Presidência da República)

A atual situação econômica do país é a principal razão que o eleitor tem levado em conta para escolher o candidato a Presidência da República nas eleições de 2022. Pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quarta-feira (16/3) mostra que 43% dos entrevistados apontaram esse motivo como o mais importante para o voto.

A boa gestão no passado foi indicada por 17% dos entrevistados como a principal razão para o voto a presidente, enquanto que se o candidato é honesto foi apontada por 7% e as propostas do candidato, por 6%.

Entre os que indicaram a situação econômica do país como a razão mais importante para votar em um candidato à Presidência, 48% votam no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e 20% no presidente Jair Bolsonaro (PL).

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Já entre aqueles que apontaram que a principal razão para o voto a presidente é a boa gestão no passado, 63% são eleitores de Lula, e 19%, do presidente. Por outro lado, o percentual de Bolsonaro chega a 59% entre aqueles que afirmaram que o fato preponderante para a escolha do presidenciável é o candidato ser honesto. No caso de Lula, esse índice fica em 7%.

A pesquisa também quis saber dos eleitores a chance de eles mudarem o voto para que a eleição acabe no primeiro turno. A pergunta feita aos entrevistados que responderam que iam votar numa terceira via (nem Lula e nem Bolsonaro) foi: “Se o primeiro turno fosse hoje e Lula tivesse grande chance de ser eleito sem precisar do segundo turno, você votaria nele mesmo preferindo outro candidato?”. Ao todo, 34% responderam que votariam no petista para que o pleito presidencial acabasse logo no dia 2 de outubro e 66% disseram que não elegeriam Lula no primeiro turno.

Entre os eleitores de Ciro Gomes (PDT), 34% votariam no ex-presidente para que a eleição acabasse na primeira parte. Entre os eleitores do ex-juiz Sergio Moro (Podemos), esse percentual é de 21% e de João Doria (PSDB), 22%.

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Por outro lado, a pesquisa também quis saber do eleitor: “Se o primeiro turno fosse hoje e Bolsonaro estivesse subindo nas pesquisas, com chances de ultrapassar Lula, você votaria em Bolsonaro para tentar evitar vitória de Lula?”. Ao todo, 23% disseram que votariam no presidente para que o petista não vencesse no primeiro turno e 77% não votariam em Bolsonaro.

Entre os eleitores de Ciro, 16% votariam no presidente para evitar que a vitória de Lula ocorresse no primeiro turno. Entre os eleitores do ex-juiz Sergio Moro (Podemos), esse percentual é de 32% e de João Doria (PSDB), 14%.

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Condenações de Lula

A pesquisa também buscou uma avaliação retrospectiva do governo e da trajetória de Lula. A primeira pergunta nesse sentido foi sobre a gestão do ex-presidente no comando do país – 24% dos entrevistados afirmaram que o petista fez um ótimo governo, 34% responderam que ele fez um bom governo. Para 22%, foi uma gestão regular. Para 18% foi ruim ou péssimo.

Sobre as sentenças contra Lula, posteriormente anuladas pela Justiça, 46% afirmaram que ele foi condenado corretamente e 42% que ele foi condenado injustamente.

Para 49%, Lula sempre foi inocente e tudo o que aconteceu com ele foi uma grande armação, e 36% responderam que ele é culpado e deveria estar preso.

A pesquisa Genial/Quaest ouviu 2 mil eleitores maiores de 16 anos do dia 10 ao dia 13 de março. A margem de erro é de dois pontos percentuais. O levantamento foi registrado junto à Justiça Eleitoral sob o número BR-06693/2022.

Poucos argumentos em defesa do voto em Lula são mais surreais do que a noção de que a eleição de seu programa neoliberal poderia salvar a combalida democracia brasileira. Por trás dessa retórica, reside a incapacidade de perceber que o mundo mudou e que o arranjo econômico e político sintetizado na expressão “petucanismo” se esgotou. A verdade é que não existe democracia sem soberania e votar em Lula é reafirmar nossa condição neocolonial.

Antes, precisamos falar sobre a polarização política no Brasil.

Como passamos os últimos quatro anos repetindo incessantemente, existem duas camadas na polarização política que racha o país. Na camada mais superficial, tanto Lula quanto Bolsonaro manobram em torno de pautas “mamadeira de piroca” para procurar se diferenciar e atrair progressistas e conservadores para suas bases de apoio, respectivamente. Essa busca pela diferenciação é essencial para eles, já que na política econômica ambos os candidatos são muito similares, sobretudo na defesa intransigente do tripé macroeconômico.

Mas na camada mais profunda, que é o fundamento real da polarização, o Brasil está em frangalhos. Quarenta anos de neoliberalismo destruíram nosso mercado de trabalho, reduziram nossa infra-estrutura a praticamente ruínas e tornaram a crise da segurança pública um genocídio cotidiano. Pairando sobre tudo isso está a inserção subordinada e neocolonial do Brasil na economia mundial, agravada desde o governo de Collor e mantida incólume nos governos petucanos, tanto em sua ala direita como esquerda.

Nos governos FHC 2 e Lula 1 e 2, o superciclo das commodities combinado com demagogia cambial turbinou o consumo, anestesiando estratos substantivos dos trabalhadores em relação aos efeitos do neocolonialismo. Essa fase ascendente do ciclo longo neoliberal se encerrou com a crise do subprime em 2008 e, apesar de algum atraso, atingiu o Brasil em cheio a partir dos anos 10, culminando com o estelionato eleitoral de 2015 e o golpe de 2016. O efeito anestésico passou em um piscar de olhos e a dor lancinante da ferida neoliberal se tornou escancarada.

O bolsonarismo, com amplo apoio de tecnologias estrangeiras, soube recalcar a consciência coletiva dos trabalhadores do Brasil contra o neoliberalismo. No lugar de denunciar o caráter neocolonial do tripé macroeconômico e das privatizações, Bolsonaro cumpriu seu desígnio ditado a partir de Washington e desviou a atenção do país para seu picadeiro, onde podia manter toda nossa terra em transe sob a batuta de pautas de costume e retórica reacionária. Por trás dos panos, o verdadeiro saque imperialista acontecia: roubo da Petrobrás, desmantelamento do BNDES, destruição da Previdência, do direito trabalhista, do orçamento federal reduzido a um parlamentarismo de fato… o rol é extenso demais para este curto ensaio. Neste sentido, aprofundaram o movimento iniciado com Collor, radicalizando o neoliberalismo dos anos 90 – em plena decadência do mundo unipolar do dólar.

Não haveria bolsonarismo em primeiro lugar se o petismo não fosse a redução de toda esquerda à mediocridade fragmentária pós-moderna. Por toda sua existência, o PT se manteve estritamente fiel às suas origens, com a defesa do fim da unicidade sindical e a sua crítica weffortiana ao populismo. A ingenuidade republicana do PT, corporificada na execrável figura de José Eduardo Cardozo e das indicações petistas para o STF, foi o ovo que pariu a serpente do lavajatismo, insuflado pelas lutas internas de um partido fraturado por dentro, continuação do udenismo de macacão e do moralismo de goela que são a cara do PT.

Mas foi a adesão totalmente acrítica das lideranças petistas ao projeto neoliberal ainda nos anos 90 que deu fundamento para a destruição do tecido social brasileiro. A continuidade do pólo dominante neoliberal nos contraditórios governos petistas completou a obra de Armínio Fraga, escancarada na entrega de Dilma de nossa malha dutoviária para um fundo previdenciário canadense.

Algumas pessoas movidas pelo mais sincero sentimento de repúdio ao autoritarismo e à humilhação nacional que foi o governo de Guedes-Bolsonaro defendem que devemos tapar o nariz frente às atrocidades de Lula e votar para o retorno do petucanismo. Afinal, o arranjo PSDB-PT trouxe um dos períodos de maior estabilidade político-institucional da história do Brasil.

No entanto, há um quádruplo equívoco nesse argumento.

Em primeiro lugar, é impossível dissociar qualquer arranjo político-econômico de seu contexto na economia mundial. O petucanismo só foi possível enquanto o neoliberalismo era capaz de promover crescimento econômico. A fase ascendente do presente ciclo longo começa no início dos anos 90 e trouxe consigo a realocação dos parques produtivos para Ásia, notadamente a China, que por sua vez demandaram nossas commodities. Por quase duas décadas, essa fase se manteve razoavelmente estável, mas colapsou inicialmente na crise de 2008, com uma pequena recuperação nos anos seguintes para voltar a mergulhar de nariz catalisada pela pandemia. Para o Brasil, isso significa o fim dos anos de bonança nas contas externas e a anestesia geral promovida pelas importações descontroladas. O fundamento econômico do tal período de estabilidade foi a fase ascendente do ciclo econômico mundial do neoliberalismo.

Em segundo lugar, essa “estabilidade” político-institucional foi a paz dos cemitérios para o Brasil, porque seu esteio era a reafirmação da nossa posição neocolonial. Como não cansamos de repetir, foi o neoliberalismo petucano que trouxe consigo a destruição do tecido social brasileiro por meio da desindustrialização e com ele o descrédito de nossas instituições frente a uma classe trabalhadora cada vez mais desiludida. Basta lembrar que não só o PT não mexeu um dedo para reverter as privatizações criminosas de FHC com amplas provas de corrupção como a Vale (na qual as ferrovias da estatal foram precificadas a zero) como ainda aprovou diversas contra-reformas previdenciárias.

Em terceiro lugar, e talvez um dos mais importantes, o petucanismo foi o maior promotor da chamada “neutralidade técnica” principalmente na política econômica com a autonomia do Banco Central e das agências reguladoras, promovendo paulatina e consistentemente o esvaziamento da soberania popular do voto. A hipertrofia do judiciária, que tomou conta de todo país como verdadeira Juristocracia, é a faceta mais evidente desse fenômeno.

Em quarto lugar, tanto Lula como Bolsonaro são peões na guerra civil que se desenrola um tanto quanto abafada agora mesmo no seio do Império Estadunidense. De um lado, a vassalagem de Bolsonaro frente a ala podre das elites estadunidenses estruturadas em torno de Trump são de longa data conhecidas. De outro lado, são igualmente notórias as afiliações de organizações petistas a órgãos imperialistas como a AFL-CIO ou a profusão de bolsas da Friedrich Ebert Stiftung, Konrad Adenauer e etc entre seus quadros que gestaram a praga de ONGs ocidentais que infestam a Amazônia brasileira, pavimentando o caminho para o próximo episódio da guerra de amplo espectro contra nosso país.

Ambos, Lula e Bolsonaro, são instrumentos para a Estratégia do Caos que visa enfraquecer e submeter o Brasil.

Independente de nossas afiliações partidárias ou preferências ideológicas, temos de ter em mente que não é possível defender a democracia brasileira sem defender nossa soberania. É a submissão de nosso país a um neocolonialismo cada vez mais aberto inclusive por meio da “neutralidade técnica” que minou nossas instituições democráticas ao ponto da ruína. Recuperar a soberania do voto popular também é recuperar nossa soberania nacional – e a repetição de termos aqui não é mera coincidência.

É por isso que votar em Lula não vai salvar a democracia brasileira.

Se Lula realmente quer ter grandeza histórica, só há uma coisa que pode fazer: abdicar de sua campanha e apoiar o PDT e Ciro Gomes incondicionalmente.