O populismo marcou um período histórico de alguns países da América Latina, situado entre as décadas de 1930 e 1960. Suas características principais eram: o poder centralizado na figura de um líder que controlava o Estado e o apoio de amplos setores sociais, tanto entre a classe dominante como entre a classe trabalhadora. Em relação aos regimes populistas, indique a alternativa que afirma de forma incorreta um país que viveu o populismo e seu líder: Show
A definição de populismo defendida por uma série de historiadores e cientistas sociais comporta algumas características específicas na forma de governar. Sobre as características do populismo, indique abaixo se cada uma das alternativas está certa ou errada.
(PUC-Minas) O período da história da república no Brasil, compreendido entre a queda do Estado Novo (1945) e o golpe civil-militar de 1964, ficou conhecido como populista, embora suas raízes estivessem presentes na revolução de 1930. Sobre o populismo é correto afirmar que foi, exceto:
(UFG-GO) O peronismo na Argentina (1946-1955) caracterizou-se por uma política populista com forte inspiração nas doutrinas fascistas do pós-guerra. Essa relação é percebida no:
Letra D. Hugo Chávez, além de ter sido um líder político venezuelano, não exerceu o poder durante o período do populismo na América Latina. Voltar a questão
C – C – E – C – E. A terceira afirmativa está errada por indicar que uma das características era a ascensão do regime através de um partido político, o que não ocorreu, já que a centralização do poder se dava em torno do líder político. E a última por afirmar que houve estímulos estrangeiros, principalmente, já que o caráter nacionalista do populismo dificultava o controle por parte dos capitalistas estrangeiros nos investimentos realizados nesses países. Voltar a questão
Apesar de haver divergências sobre governar com e para o povo, o caráter autoritário do populismo jamais permitiu a livre manifestação das massas trabalhadoras, sendo que o Estado utilizava os sindicatos como forma de controlar as manifestações. Voltar a questão
Letra A. O controle das massas trabalhadoras e a repressão às oposições foram uma das características do fascismo adotadas pelos populistas, inclusive na Argentina. O populismo é um conceito explicativo utilizado, frequentemente, quando nos referimos às experiências políticas de parte da história do Brasil e de outros países da América Latina. A definição de populismo é bastante complexa, mas, de uma forma geral, quando o termo é utilizado, ele se refere a práticas políticas exercidas por governos da América Latina, ao longo do século XX. No caso do Brasil, o conceito clássico de populismo tem muita associação com o período de 1930 a 1964, considerado o auge do populismo no Brasil. Ainda assim, a definição de populismo arrastou-se para o século XXI e está muito relacionada a governos que possuem um grande apelo com as camadas mais pobres do local que governa. No Brasil, alguns dos presidentes que foram considerados símbolos do populismo foram Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e João Goulart. Acesse também: Saiba um pouco sobre a história das eleições no Brasil O conceito básico de populismo pode ser estruturado de acordo com as características listadas pelo professor Marcos Napolitano|1|.
Essa caracterização do populismo, conforme mencionado, relaciona-se com a história do Brasil no período 1930-1964 e tem em seu grande representante Getúlio Vargas, sobretudo durante o Estado Novo. No caso da América Latina, o populismo é utilizado para explicar as experiências históricas relacionadas ao peronismo (Argentina), aprismo (Peru) e cardenismo (México). Outros estudiosos do conceito defendiam também uma hipótese alternativa, que afirmava que o populismo era um estágio intermediário que sociedades “atrasadas”, no processo de modernização capitalista, enfrentavam conforme se modernizavam. Enquanto essa modernização acontecia, as sociedades que a enfrentavam passavam por tensões muitos fortes, e o populismo era o mecanismo político que surgia para mediar o conflito de interesses que aconteciam nessas sociedades até que elas alcançassem um alto grau de desenvolvimento. Como os historiadores analisam o uso do termo?O uso do termo populismo, como chave de explicação conceitual dos fenômenos políticos do nosso país, foi muito forte durante as décadas de 1960 e 1970. A partir da década de 1990, o termo começou a ser reavaliado pelos historiadores, e as convicções antigas, a respeito do populismo, começaram a ser revisadas. A conclusão que se tira atualmente é que o populismo é um conceito que explica parte da nossa experiência política, mas não a explica em sua totalidade. Assim, aplicações do populismo durante o período de 1930-1964 têm sido questionadas por meio dos novos estudos. Uma ideia questionada é aquela que afirma que o poder do líder era baseado totalmente no seu carisma, utilizado para manipular as massas em seu favor. Atualmente, os historiadores trabalham com a ideia de que as massas não eram necessariamente manipuladas, uma vez que poderiam ter demandas que eram preenchidas com o discurso do líder. Outro ponto de questionamento importante está relacionado com o funcionamento do sistema partidário. A definição clássica de populismo estipula que o sistema partidário é frágil, mas no caso da Quarta República brasileira, também conhecida como República Populista, isso não é verdade, uma vez que a eleição e a sustentação dos presidentes em seu cargo somente ocorreram por meio do apoio político-partidário. A Quarta República, inclusive, é um período de democratização no nosso país. Pela primeira vez, tivemos eleições baseadas no sufrágio universal (excluindo os analfabetos, apenas), e o país viveu um período de crescimento da participação do cidadão com a vida político-partidária. Esse processo de democratização do Brasil, apesar de complexo e repleto de tensões e atritos, foi interrompido quando ocorreu o Golpe de 1964. O sistema partidário brasileiro era tão forte e importante, nesse período, que grande parte dos políticos só se elegeram por meio de uma rede de alianças que incluiu o PSD e o PTB. A sustentação dos presidentes brasileiros também dependia do apoio partidário. João Goulart é um caso exemplar, pois seu governo colapsou quando os políticos do PSD que o apoiavam romperam para ir para a oposição representada pela UDN. É por essas e por outras questões que os historiadores sugeriram que o período conhecido como República Populista fosse renomeado como Quarta República, pois o termo populismo não explica toda a experiência política do Brasil nesse período. Acesse também: Conheça o movimento de trabalhadores que invadiam e destruíam máquinas Presidentes populistasDentro do que foi dito, o período entre 1946 e 1964, conhecido como Quarta República, é encarado por muitos como o grande período populista da nossa história. Os principais presidentes desse período foram: Os quatro últimos são encarados como exemplos de políticos populistas em nosso país. Caso você tenha interesse de saber mais sobre esse período da nossa história e conhecer a lista completa dos presidentes desse período, sugerimos a leitura deste texto. Acesse também: Para saber mais sobre o governo de João Goulart, leia este e este texto. Populismo de direitaNos últimos anos, tem estado em evidência o uso da definição de “populismo de direita”. Esse conceito, desenvolvido na Ciência Política, é usado para se referir a governos e políticos de práticas populistas e que são ideologicamente conservadores, isto é, vogam ideologias que estão posicionadas na direita do espectro político. Os estudiosos da área afirmam que o populismo de direita é uma construção recente e refere-se aos últimos trinta anos, estando diretamente relacionado com as crises sociais, políticas e econômicas que aconteceram nesse período e as transformações que o mundo enfrentou por conta da globalização. Os populistas de direita também atuam no sentido de defender a vontade do líder, como a personificação da vontade do povo, e possuem discurso que promovem ataques contra uma elite ou um grupo específico e contra toda forma de cientificismo ou intelectualismo. O populismo de direita também tem tendência de promover ataques contra a imigração. Populismo na Argentina
Outro exemplo de governo classificado como populista na América Latina foi o governo de Juan Domingo Perón, presidente da Argentina entre 1946 e 1955 e 1973-1974. Muitos críticos do legado político de Perón, conhecido como peronismo, criticam outros governos posteriores, que supostamente se inspiraram na ideologia peronista. Juan Domingo Perón era um coronel do exército argentino que ascendeu politicamente durante um período em que a Argentina foi governada pelo Grupo de Oficiais Unidos (GOU), formada por militares de tendências fascistas que flertavam em apoiar o Eixo e eram anticomunistas e católicos radicais. Ganhou importância na Argentina após atuar no Ministério do Trabalho, legislando amplamente em benefício da classe de trabalhadores. Esse prestígio fez com que Perón saísse vitorioso na eleição presidencial de 1946, com cerca de 52% dos votos. Permaneceu no poder até 1955, quando foi deposto pelos militares. Os indícios do populismo no regime de Perón são identificados a partir de uma análise de seu governo. O historiador Luis Alberto Romero afirma que Perón “estava disposto a conversar com todos os setores da sociedade e da política, […] e era capaz de sintonizar o discurso adequado a cada um deles, apesar de manter um apelo constante a ‘todos os argentinos’”|2|. Na citação acima, podemos perceber a capacidade de negociação de Perón, o que é uma evidência de que ele era um líder carismático que conseguia conciliar grupos diversos em favor de seus interesses, percebemos também o discurso voltado para a “Nação”. Perón, durante seu governo, reforçou fortemente os laços do Estado com os trabalhadores. Isso ficou bastante evidente nas tentativas de Perón de controlar os sindicatos e de ampliar inúmeros direitos dos trabalhadores. Outro apelo do discurso populista se deu na criação de um discurso que pregava uma dicotomia povo x elite/oligarquia. Luis Alberto Romero fala que “Perón assumiu totalmente o discurso da justiça social, da reforma justa e possível, à qual se opunham apenas o egoísmo de uns poucos privilegiados”|3|, além disso, dividiu a sociedade argentina entre “povo” e “oligarquia”. A visão de Estado para Perón estipulava que o Estado deveria ser o mediador dos conflitos da sociedade, além de ser o responsável por cuidar da economia e segurança das pessoas. Luis Alberto Romero fala que a visão de Perón, nessa questão, aproximava-se com a de Cárdenas, o grande nome do populismo no México|4|. Além disso, remata que a visão de Estado para Perón: Implicava uma reestruturação das instituições republicanas, uma desvalorização dos espaços democráticos e representativos e uma subordinação dos poderes constitucionais ao Executivo, lugar onde estava estabelecido o dirigente, cuja legitimidade derivava mais do grande apoio popular que dessas instituições|5|. Por fim, vale afirmar que a política de Perón foi abertamente nacionalista e, já durante o seu primeiro governo, nacionalizou ferrovias e bancos, além do Banco Central. A nacionalização da economia argentina foi um dos pilares do peronismo. Perón foi destituído do poder em 1955 por meio de um golpe militar. |1| NAPOLITANO, Marcos. Democracia, “populismo” ou política de massas: a “República de 46”. Para acessar, clique aqui. |2| ROMERO, Luis Alberto. História contemporânea da Argentina. Rio de Janeiro: Zahar, 2006, p. 94. |3| Idem, p. 97. |4| Idem, p. 106. |5| Idem nota 4. *Créditos da imagem: FGV/CPDOC **Créditos da imagem: FGV/CPDOC |