Conquista da América EspanholaEm sentido restrito, dá-se o nome de conquista da América espanhola à que foi realizada pelos espanhóis nos territórios das civilizações do Novo Mundo. Ao contrário de outros processos colonizadores, como o do Caribe, o do rio da Prata ou o do Brasil pelos portugueses, essas campanhas de conquista foram levadas a efeito contra estados ou confederações de tribos que contavam com exércitos permanentes e elevado grau de organização. Foram, portanto, verdadeiras operações militares, executadas por soldados profissionais diante de forças em geral muito mais numerosas. Apesar disso, a vantagem dos espanhóis era incomparável, propícia a estimular-lhes a prepotência e a crueldade, pois seus adversários não conheciam as armas de fogo e chegaram a vê-los como deuses.
Os interesses econômicos e políticos da monarquia espanhola foram as forças mais determinantes das viagens e expedições de conquista dos territórios descobertos por Colombo. Acostumados durante séculos à guerra contra os árabes, os espanhóis trataram o Novo Mundo como a nova fronteira de seu poderio e da fé cristã. Cogitando de utilizar os indígenas como mão-de-obra submissa, deram prioridade à dominação das regiões culturalmente adiantadas, como o México e o Peru, em vez daquelas em que o estado selvagem dos nativos pudesse dificultar a exploração econômica. Os conquistadores eram, ora da pequena nobreza castelhana, ora aventureiros, provindos principalmente da Andaluzia, Extremadura e Castela.
Nomeado almirante, vice-rei e governador das terras que descobrira, Cristóvão Colombo ainda teria direito à décima parte do que obtivesse na colonização, a que deu início em 1493, com sua segunda viagem à América. Por meio de bulas papais, e do Tratado de Tordesilhas (1494), as terras do continente foram divididas entre a Espanha e Portugal. Explorando a ilha de Hispaniola (La Española), Colombo e os espanhóis chegaram a parcos resultados. Com as últimas viagens do navegador (terceira e quarta), foram alcançadas a ilha de Trinidad, a foz do Orinoco, o golfo de Honduras e a costa centro-americana até o Panamá. As muitas outras viagens às Américas, de navegadores como Américo Vespúcio, Pedro Álvares Cabral, Vicente Yáñez Pinzón, acabaram de convencer a Espanha a empreender um esforço especial de conquista e colonização das novas terras. Em 1508 Diego de Nicuesa e Alonso de Ojeda tentaram inutilmente estabelecer colônias na costa norte da futura Colômbia. Pouco depois Vasco Núñez de Balboa fundou no istmo do Panamá a povoação de Santa María la Antigua, partindo daí para o chamado mar do Sul, o oceano Pacífico, aonde chegou em 1513.
La Española e Cuba tornaram-se as bases logísticas para a conquista do continente. Em 1517 os espanhóis exploraram a península de Yucatán, entrando em contato com a civilização dos maias, então em decadência. Os relatos sobre as riquezas desse povo despertaram o interesse do governador de Cuba, Diego de Velázquez, que enviou nova expedição às terras mexicanas, sob o comando de Juan de Grijalva (1518). Este, contornando o litoral da península de Yucatán, chegou a Tabasco, onde conferenciou com representantes do governo asteca, subindo depois até o lugar em que mais tarde se fundaria Veracruz.
Com base na tradição espanhola da autonomia municipal, Cortés fez suas tropas reconhecerem-no como capitão-geral, assumindo autoridade suficiente para conquistar o México independentemente das ordens de Velázquez. Os espanhóis receberam representantes do imperador asteca Montezuma II, que indagaram a intenção dos invasores e tentaram convencê-los a não ir adiante. Houve também um encontro com os índios totonacas, dominados pelos astecas, que se comprometeram a compor com Cortés contra Montezuma. Avançando em direção à capital do império, o capitão espanhol recebeu muitos presentes, por ter sido identificado com o deus Quetzalcóatl.
Os navegadores que percorreram a costa do Pacífico difundiram notícias sobre o vasto império inca, em grande parte identificado, na imaginação dos conquistadores, com o reino fabuloso do Eldorado, que se pensava existir na região. Duas expedições de reconhecimento, em 1524 e 1526, localizaram os centros mais importantes e confirmaram a existência de riquezas extraordinárias. Empreenderam a conquista Francisco Pizarro e seus auxiliares Diego de Almagro e Hernando de Luque, à frente de uns 200 homens (1530). Valendo-se da situação de guerra civil em que se opunham os irmãos Huáscar e Atahualpa, os espanhóis avançaram rapidamente. Depois da fundação de San Miguel, primeira posição espanhola estabelecida no Peru, os conquistadores dirigiram-se a Cajamarca, de onde atacaram os índios de surpresa e capturaram Atahualpa. O inca (originalmente título do soberano desse império), que vencera e mandara matar o irmão Huáscar, entregou a Pizarro imensas riquezas em troca da liberdade. Ainda assim, foi executado. Pizarro seguiu então para Cuzco, apossando-se de todas as terras por onde passava. Ante a perturbação causada pela morte de Atahualpa, os incas e os povos índios que lhes eram subordinados aceitaram a dominação espanhola e, após entrar em Cuzco, com a conquista praticamente consolidada, Pizarro reconheceu Manco Cápac como novo chefe inca. Com o Peru inteiramente sob seu controle, os conquistadores saquearam as riquezas do império e procuraram os lugares mais propícios à fundação de cidades. Em 1535 foi fundada Los Reyes, futura Lima.
Não tardaram a surgir desavenças entre os espanhóis responsáveis pelo domínio das novas terras, entre as quais o norte do Chile. Diego de Almagro fizera expedições a essa região, mas seu conquistador foi Pedro de Valdivia, que em rápida incursão fundou as cidades de Santiago, Valparaíso e Concepción, entre outras, de 1541 a 1550. Em 1553 no entanto os araucanos, guiados pelo cacique Lautaro, conseguiram capturá-lo e matá-lo. Após meio século de guerra, o rio Biobio foi reconhecido pelos espanhóis como a fronteira norte das terras araucanas, que assim permaneceram até a segunda metade do século XIX.
A expansão territorial da Espanha no continente completou-se com a conquista do rio da Prata. Em 1516 seu estuário foi descoberto por Díaz de Solís, mas a conquista propriamente dita foi obra de Pedro de Mendoza, quando fundou (1536) Santa María de Buen Aire, mais tarde de Buenos Aires. A escassez de víveres e os ataques de índios obrigaram os colonizadores a abandonar a cidade, que na época era muito isolada. Na viagem de volta à Espanha, Mendoza morreu. Juan de Ayolas e Domingo Martínez de Irala, seus oficiais, encarregaram-se de continuar seu trabalho e fundaram Assunção, que se tornou centro da colonização espanhola da região. Estabelecimentos agrícolas e de pecuária no noroeste do que viriam a ser as províncias argentinas de Salta e Jujuy prosperaram bastante e garantiram alimentos para a zona de mineração de Potosí, onde se constituiria a atual Bolívia. A conquista do rio da Prata consolidou-se em 1580, com a segunda fundação de Buenos Aires, a cargo de Juan de Garay. A Administração Colonial Espanhola foi iniciado com o propósito de dominação colonial da Espanha, iniciado com a implantação de um complexo sistema de controle sob as regiões dominadas da América. Valendo-se da justificativa religiosa e do grande interesse comercial da Coroa, a Espanha apresentou hábitos, instituições e homens que garantiram o funcionamento da lógica de exploração hispânica. Inicialmente, as possessões espanholas foram divididas em quatro grandes Vice-reinados: Nova Espanha (México), Nova Granada (Colômbia/Equador), Peru (Peru/Bolívia) e Rio da Prata (Paraguai/Uruguai/Argentina). Paralelamente, houve a instalação de outras quatro capitanias-gerais: Cuba, Guatemala, Chile e Venezuela. Nomeados pela Coroa, os vice-reis e capitães-gerais contavam com uma série de órgãos que legitimavam sua autoridade político-administrativa. Na esfera regional, ainda existiam os cabildos (ou ayuntamientos), que funcionavam como câmaras municipais incumbidas de resolver as questões de caráter local. Todos os cargos do alto escalão administrativo da Coroa Espanhola eram dominados por um grupo específico. Somente os indivíduos nascidos na Espanha, chamados chapetones, podiam ocupar estes cargos. Logo em seguida, existia uma elite local que detinha o controle sobre as atividades comerciais e agro-exportadoras. Os criollos formavam uma elite nascida em solo americano que, por determinação da administração colonial, não usufruíam dos mesmos privilégios políticos da classe chapetone. Esse tipo de separação causou grandes conflitos entre criollos e chapetones na América espanhola. Nos extratos intermediários da sociedade colonial hispânica estavam os mestiços. Esses, apesar de serem trabalhadores livres, não desfrutavam de nenhuma espécie de direito político. Por fim, as populações indígenas compunham a grande parcela da população colonial e, ao mesmo tempo, representava o sustentáculo de toda economia. A exploração da mão-de-obra indígena era organizada em duas diferentes modalidades: a mita e a encomienda. A mita consistia em uma espécie de imposto pago em forma de trabalho. Essa relação de trabalho, herdada dos incas, escolhia por sorteio parcelas da população indígena que deveriam compulsoriamente prestar serviços durante um período de três a quatro meses. Já encomienda era um tipo de relação de trabalho onde um encomendero organizava as populações que teriam sua mão-de-obra explorada. Em troca, os índios recebiam a catequização católica. A escravidão também foi explorada na América Espanhola, principalmente na medida em que a mão-de-obra indígena mostrava-se insuficiente.O Conselho Real e Supremo das Índias era o órgão máximo da administração colonial. Para controlar as riquezas produzidas e a cobrança dos impostos foi criada na metrópole a Casa de Contratação. Nelas, o “sistema de porto único” era dotado para evitar o contrabando comercial. Segundo esse sistema, somente nos portos de Cádiz e Sevilha poderia circular os produtos oriundos e destinados ao continente americano. Em solo americano, somente os portos de Veracruz (México), Porto Belo (Panamá), e Cartagena (Colômbia) podiam comercializar com a Espanha. Ao longo do século XVII e XVIII, os interesses político-econômicos da elite criolla e a ascensão do ideário iluminista criaram um sério desgaste na administração colonial espanhola. Com o advento da Era Napoleônica, as autoridades coloniais metropolitanas perderam sua autoridade no momento em que Napoleão ameaçava a estabilidade do poder central hispânico. Nesse contexto, as várias independências latino-americanas do século XIX deram fim ao poderio colonial espanhol.http://www-storia.blogspot.com/ |