Como comparar o imperio romano e a uniao europeia

SÃO PAULO – Os problemas econômicos globais afetam de forma importante os seus investimentos, especialmente as aplicações no mercado de renda variável. Basta analisar toda a volatilidade da bolsa brasileira nos últimos tempos, que muitas vezes oscila ao de acordo com o humor dos agentes com as notícias sobre a crise europeia, que já vem se arrastando há alguns anos sem uma solução definitiva.

Mas esta crise tem suas origens em problemas anteriores, que remontam à formação do bloco comum europeu, no final da década de 1990. Quem explica é o diretor técnico da Apogeo Investimentos, Paulo Bittencourt, que no próximo sábado (21) fará uma palestra com o tema: “Formação da Europa. Do Império Romano até a Crise Atual”, em São Paulo.

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“A União européia é o resgate de uma ideia que nasceu por volta de meados do século XIX, quando alguns ideólogos, olhando a história da Europa, perceberam que a grande fraqueza do continente era a fragmentação que aconteceu depois da queda do Império Romano”, explica.

Depois de mais de um século, em 1999, a União Europeia finalmente saiu do papel, mas o executivo aponta que houve algumas falhas neste processo, que culminaram na crise que os europeus vivem atualmente. “Esse modelo de unificação ficou incompleto”, diz. Segundo ele, um dos problemas foi a necessidade de abolir a moeda de cada país. “Houve uma discussão gigantesca sobre isso. A população tinha um forte vínculo sentimental com suas respectivas moedas: alemães com o Marco, italianos com a Lira e por isso foi muito delicado tirar a moeda de cada nação”, diz Bittencourt.

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Outro problema, e o mais grave, foi a questão da união fiscal. Alguns países queriam proporcionar à população condições de bem estar iguais às das nações mais ricas do continente, o que fez com que se endividassem mais e mais. “A população da Grécia, Espanha, Portugal, começa a reivindicar melhores condições, mais assistência, assim como recebiam os alemães e franceses, por exemplo. E os países foram se endividando cada vez mais”, explica Bittencourt. “O desejável seria que houvesse um controle do BCE (Banco Central Europeu) sobre o máximo de endividamento que um país poderia atingir. Algo em torno de 3,5% do PIB (Produto Interno Bruto)”, afirma.

Entretanto, ele aponta que, para isso, seria necessária uma interferência do bloco na política fiscal de cada país, o que inviabilizaria a criação da união europeia naquele momento. “Se tentassem forçar isso na criação da União Européia, tenho certeza que não chegariam a um consenso e talvez a unificação nem saísse do papel”, afirma o executivo.

Como isso tudo nos influencia?
Toda esta questão política e econômica que envolve a Europa acaba afetando a vida de pessoas do mundo todo, inclusive de nós brasileiros. Em relação aos investimentos, é inegável que os problemas na Europa têm causado um movimento de aversão ao risco e provocado grande volatilidade na bolsa brasileira, assustando muitos investidores e os afastando do mercado de renda variável. Prova disso é a diminuição do número de investidores pessoa física cadastrados na bolsa nos últimos anos. De acordo com a BM&FBovespa, de 2010 até junho deste ano, o número recuou quase 5%, para 580 mil pessoas.

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Dos que permaneceram investindo em ações, muitos procuraram por papéis mais defensivos. “Em um cenário como estamos vivendo agora, você precisa escolher empresas de setores que estão mais adaptados”, aponta o diretor da Apogeo.

Entre as apostas da gestora para este momento está o fundo de dividendos, que investe em ações de empresas que são boas pagadoras de proventos. Este ano, estes fundos têm se destacado em termos de rentabilidade. Segundo a Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capital), eles renderam, em média, 10,93% no primeiro semestre. Para comparar, o Ibovespa (principal referencial do mercado acionário brasileiro), recuou 4,23% no mesmo período.

Mas o diretor aponta que também podem existir boas oportunidades em ações que desvalorizaram bastante com a crise, mas que tem um bom potencial de recuperação. “É importante diversificar. Eu não deixaria de lado também um investimento em um fundo mais agressivo de ações, em uma proporção menor, se o seu objetivo for para uma aposentadoria, por exemplo”, conclui.

A União Europeia, criada pelo Tratado de Roma há 60 anos e ameaçada pela separação do Reino Unido, é a última tentativa na longa e sangrenta história da unificação do continente europeu.

Estas foram as tentativas de unificar, sob a mesma bandeira, povo ou nação, mais notáveis da história do Velho Continente.

- Império Romano -

QUANDO: 27 a.c.- 476, e sua queda ante os povos germânicos.

ONDE: Desde o norte da Inglaterra até o norte da África, da costa atlântica europeia até o Oriente Médio.

A visão de uma Europa unida tem estado ancorada no tempo. Há séculos imperadores expandiram a sua influência através de um território ainda maior do que o atual da UE.

O tratado fundador da União Europeia, o Tratado de Roma de 1957, foi assinado em uma cidade que foi a sede da civilização europeia e do poder centralizado por meio milênio.

Roma sobreviveu mais tempo do que qualquer outro regime, ruindo finalmente em meio a lutas internas, suas ambições e invasões bárbaras.

- Carlos Magno -

QUANDO: 768-814

ONDE: do leste europeu ao oeste da França, e uma grande parte da Itália.

Roma foi o centro do projeto europeu lançado por Carlos Magno, o rei dos francos.

Instalado principalmente em Aachen, na Alemanha, Carlos Magno lutou em guerras sem fim para unir seu vasto reino sob um trono e foi coroado imperador de Roma pelo Papa Leão III (750-816), sendo o primeiro desde a queda do Império Romano.

Cristão fervoroso, Carlos Magno impôs sua fé através das fronteiras feudais da Europa, instituindo reformas políticas e um renascimento intelectual.

O Sacro Império Romano perdurou depois de Carlos Magno, mas como uma confederação de ducados alemães e cidades-Estado.

- Carlos V -

QUANDO: 1515-1555

ONDE: Espanha, Itália, Alemanha, Holanda e América do Sul.

O único governante do Sacro Império Romano que procurou a unidade da Europa em uma escala comparável à da União Europeia de hoje foi Carlos de Habsburgo.

Carlos V era um belga francófono, de mãe espanhola e pai flamengo, que tentou construir uma Europa com base em um catolicismo convicto, leis comuns e colonialismo.

Mas os europeus provaram ser muito díspares e pouco dispostos a pagar impostos para um autocrata com sede na Bélgica, com o qual tinha pouco em comum.

Carlos V abdicou depois de governar por 34 anos, aposentando-se em um mosteiro na Espanha

- Napoleão Bonaparte -

QUANDO: 1799-1815

ONDE: Da Espanha até os arredores de Moscou

A Revolução Francesa, filha do Iluminismo, mudou a Europa para sempre, especialmente porque um ditador corsa tentou impor seus valores além do que é a atual UE.

Influenciado pela Roma antiga, Napoleão transformou a Revolução Francesa em um império familiar, e embarcou em uma década de batalhas militares, que terminou com sua derrota final em Waterloo, agora um subúrbio de Bruxelas.

Napoleão sentia profundamente o passado romano da Europa. Deu a Paris um Arco do Triunfo de estilo romano para celebrar seus soldados caídos na guerra e criou a Legião de Honra, uma ordem de distinção, como o Legio Honoratorum romano.

Também evocou Carlos Magno em sua coroação imperial em 1804.

- Victor Hugo -

QUANDO: anos 1840

Após o Congresso de Viena, que marca o fim das guerras napoleônicas, a Europa tornou-se um continente de Estados-nação que trabalham em conjunto de forma prudente para preservar um equilíbrio de poder nas mãos de forças conservadoras.

Contra isso, os intelectuais como o francês Victor Hugo e o italiano Giuseppe Mazzini defendiam um Estados Unidos da Europa, baseado na paz e num propósito comum que alimentaria as revoluções de 1848, que serviram de base para as visões da Europa posterior à Segunda Guerra Mundial.

- Adolf Hitler -

QUANDO: 1938-1945

ONDE: A maior parte da Europa, partes do Norte da África e Rússia

A visão de Europa de Hitler sob a suástica nazista era menos um sonho do que uma busca distorcida do "Lebensraum" (espaço vital) para uma Grande Alemanha.

Roma voltou a ser uma inspiração, sob a forma da águia nazista e outra iconografia marcial, bem como os grandes projetos de arquitetura de Hitler.

Havia também grandes reminiscências napoleônicas, particularmente no que foi outra tentativa fracassada de conquistar a Rússia.

Boris Johnson, atual ministro britânico de Relações Exteriores, provocou indignação no ano passado quando comparou a UE com Napoleão e Hitler.

- União Europeia -

QUANDO: 1957 - ?

ONDE: Os atuais 28 membros

Em 1950, apenas cinco anos após a Segunda Guerra Mundial, o ministro francês das Relações Exteriores, Robert Schuman, apresentou propostas para uma união econômica entre a França e a Alemanha Ocidental, inspirado pelas ideias do economista Jean Monnet, que durante muito tempo foram consideradas como uma fantasia pacifista.

Um ano depois, seis países - Bélgica, França, Alemanha, Itália, Luxemburgo e Holanda - instituíram a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, com base no Tratado de Roma, assinado em 25 de março de 1957, estabelecendo o precursor da UE.

O Reino Unido tornou-se o primeiro país a deixar a União, mas a UE é um capítulo na história da Europa que permanece inacabado.

* AFP