As imagens representam três momentos da dinâmica dos movimentos migratórios no Brasil explique os

O fenômeno da mobilidade populacional vem apresentando transformações significativas no seu comportamento desde as últimas décadas do Século XX, não só no Brasil como também em outras partes do mundo. Até o presente momento, essas mudanças têm demandado um esforço por parte dos estudiosos no sentido de buscar explicações teóricas para esses novos processos, que se materializam, entre outros aspectos, na dimensão interna, tanto pelo redirecionamento dos fluxos migratórios para as cidades médias em detrimento dos grandes centros urbanos, como pelos deslocamentos de curta duração e a distâncias menores, quanto pelos movimentos pendulares, que passaram a assumir maior relevância nas estratégias de sobrevivência dos indivíduos, não mais restritos aos grandes aglomerados urbanos.

Visando contribuir para uma discussão contemporânea sobre o tema, técnicos e pesquisadores do IBGE, reunidos no Grupo Transversal de Estudos do Território e Mobilidade Espacial - GEMOB, oferecem, nesta publicação, uma coletânea de seis estudos sobre as mais diversas dimensões da mobilidade populacional no País.

O primeiro, Algumas abordagens teóricas a respeito do fenômeno migratório, é dedicado à reflexão teórica e trata do debate atual sobre a questão, com aportes das mais diversas correntes, nacionais e internacionais, proporcionando um ponto de partida importante para as análises empreendidas. Apresenta, ainda, perspectivas que identificam, na mudança do padrão de acumulação do capital, o eixo estruturante na explicação do novo modo como se apresentam as migrações.

Os dois estudos seguintes – O panorama dos deslocamentos populacionais no Brasil: PNADs e Censos Demográficos e A investigação das migrações internas, a partir dos Censos Demográficos brasileiros de 1970 a 2010 – fornecem um quadro geral desses deslocamentos internos na primeira década do Século XXI, com análises sobre os movimentos inter-regionais e interestaduais bem como sobre as mudanças ocorridas nos levantamentos estatísticos, tendo como referenciais pesquisas realizadas pelo IBGE.

O estudo Reflexões sobre a mobilidade pendular trata dos movimentos pendulares como expressão das diferentes dimensões da economia e da sociedade contemporâneas, responsáveis, que são, pela criação de novos espaços territoriais e societários nos lugares de origem (domicilio) e destino (trabalho, ensino, lazer e outras atividades relacionadas à ação humana). Propõe, ainda, um novo olhar, tanto metodológico como teórico, sobre essa modalidade de deslocamento populacional.

A migração internacional é objeto de análise em Estimativas de migração internacional no Brasil: os velhos e os novos desafios , que tece considerações sobre tais procedimentos de cálculo e seus desafios metodológicos e discute os possíveis usos da informação sobre a emigração internacional investigada no Censo Demográfico 2010.

O último estudo, Perspectivas para a mensuração do fenômeno migratório no Brasil, aborda as possibilidades analíticas para a melhor apreensão deste fenômeno, que se vislumbram para a década de 2010, a partir dos resultados do Censo Demográfico 2010 e do Suplemento Migração da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD Contínua.

As migrações inter-regionais são aquelas que ocorrem dentro do território nacional e entre as regiões geográficas. Na história do Brasil, as migrações dessa espécie estiveram e ainda estão relacionadas a ciclos econômicos, que atraem a população que busca conquistar melhorias econômicas e benefícios sociais. Destacaremos as grandes correntes migratórias que ocorreram no território brasileiro.

Século XVIIpecuária extensiva: deslocamento da população do litoral nordestino em direção ao Sertão e proximidades do Brasil Central. Esse movimento ajudou na interiorização do povoamento, até então restrito às regiões litorâneas. A pecuária, a princípio, tinha como objetivo atender às necessidades dos engenhos de cana. A necessidade de ampliar as fronteiras motivou a coroa portuguesa a explorar a atividade pecuarista para essa finalidade.

Século XVIIImineração: deslocamento da população do Nordeste e de São Paulo em direção à Região das Minas Gerais (Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais). A mineração iniciou a modificação da estrutura de ocupação do Brasil, até então concentrada no Nordeste brasileiro. Nesse momento, começou a constituição de uma área de repulsão (atual Região Nordeste) e uma área de atração (atual Região Sudeste).

Século XIX (principalmente na 2ª metade)atividade cafeeira: interiorização do estado de São Paulo (mineiros e baianos). Apesar da predominância das imigrações externas (italianos), ocorreu um grande movimento interno em direção ao estado de São Paulo. Alguns agricultores paulistas também migraram em direção ao norte do estado do Paraná.

Final do século XIX e início do século XXciclo da borracha: nordestinos em direção à Amazônia, em sua maioria retirantes do Sertão nordestino, principalmente do estado do Ceará. Após o declínio da borracha, muitos se dirigiram para o Sudeste. 

Pós-Segunda Guerra MundialConcentração industrial: nordestinos em direção ao Sudeste e Sul, com destaque para os estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Esse movimento foi muito intenso, principalmente entre as décadas de 1960 e 1980. Os nordestinos constituíram a principal mão de obra para a construção civil e para os setores industriais que empregavam trabalhadores com menor qualificação. A falta de políticas públicas adequadas nas cidades do Sudeste, assim como por parte dos governantes nordestinos, que pouco ou nada fizeram para oferecer melhores condições de vida para a sua população, desencadeou uma série de problemas estruturais nas áreas urbanas e rurais do Sudeste.

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Década de 1960Construção de Brasília: nordestinos em direção ao Brasil Central. Formação da Zona Franca de Manaus e extrativismo mineral: nordestinos em direção à Amazônia. Projetos de colonização do Estado: nordestinos e agricultores sulistas em direção à Amazônia. Os governos militares incentivaram a colonização da região amazônica, tendo como fundamento a ocupação e proteção dos extremos do país. Nesse processo, iniciaram os conflitos fundiários que persistem até os dias atuais, envolvendo os povos da floresta, garimpeiros, fazendeiros e grandes corporações ligadas à extração de madeira e minérios.

Décadas de 1970 e 1980Fronteiras agropecuárias: fazendeiros da região Sul em direção ao Brasil Central. O Centro-Oeste tornou-se o novo celeiro agrícola do país, destacando-se a pecuária e a produção de grãos. A especulação agrícola supervalorizou as terras da região, provocando êxodo rural e pressionando as áreas de Cerrado.

Década de 1990Fronteiras agropecuárias: expansão das fronteiras do Brasil Central em direção à Amazônia. Com o crescimento do agronegócio, principalmente a soja, as monoculturas avançaram em direção à Região Norte, alcançando até mesmo o estado do Amapá.

Década de 2000Motivações socioeconômicas: migrações de retorno, principalmente de nordestinos. Apesar de o Sudeste continuar exercendo atração para a população de outras regiões, a precariedade nas condições de vida dos centros urbanos e a falta de oportunidades fizeram com que muitos imigrantes voltassem para os seus estados de origem, procurando evitar que mais uma geração fosse entregue à marginalidade e aos subempregos.  Juntamente a esse fator, pode ser acrescentado o crescimento econômico alcançado por alguns centros nordestinos. Além disso, o Censo 2010 apontou para o crescimento das cidades médias como sendo um dos principais fatores responsáveis pela atração de imigrantes, o que ajuda a explicar o saldo migratório negativo da Região Metropolitana de São Paulo. Ainda de acordo com o IBGE, apesar da continuidade dos fluxos migratórios inter-regionais, o volume das migrações entre as regiões brasileiras tem diminuído nos últimos anos.

Júlio César Lázaro da Silva Colaborador Brasil Escola Graduado em Geografia pela Universidade Estadual Paulista - UNESP

Mestre em Geografia Humana pela Universidade Estadual Paulista - UNESP

Migração consiste no ato da população deslocar-se espacialmente, ou seja, pode se referir à troca de país, estado, região, município ou até de domicílio. As migrações podem ser desencadeadas por fatores religiosos, psicológicos, sociais, econômicos, políticos e ambientais.

A migração interna corresponde ao deslocamento de pessoas dentro de um mesmo território, dessa forma pode ser entre regiões, estados e municípios. Tal deslocamento não provoca modificações no número total de habitantes de um país, porém, altera as regiões envolvidas nesse processo.

No Brasil, um dos fatores que exercem maior influência nos fluxos migratórios é o de ordem econômica, uma vez que o modelo de produção capitalista cria espaços privilegiados para instalação de indústrias, forçando indivíduos a se deslocarem de um lugar para outro em busca de melhores condições de vida e à procura de emprego para suprir suas necessidades básicas de sobrevivência.

Um modelo de migração muito comum no Brasil, que se intensificou nas últimas cinco décadas, é o êxodo rural, ou seja, a migração do campo para a cidade. O modelo econômico que favorece os grandes latifundiários e a intensa mecanização das atividades agrícolas têm como consequência a expulsão da população rural.

A região Sudeste do Brasil, até o final do século XX, recebeu a maior quantidade de fluxos migratórios do país, principalmente o estado de São Paulo, pelo fato de fornecer maiores oportunidades de emprego em razão do processo de industrialização desenvolvido.

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No entanto, nas últimas décadas, as regiões Centro-Oeste e Norte têm sido bastante atrativas para os migrantes, pois após a década de 1970, a estagnação econômica que atingiu e ainda atinge a indústria brasileira afetou negativamente o nível de emprego nas grandes cidades do Sudeste, gerando pouca procura de mão de obra, ocasionando a retração desses fluxos migratórios. Assim, as regiões Norte e Centro-Oeste, que já captavam alguma parcela desse movimento, tornaram-se destinos da migração interna do Brasil.

As políticas públicas para a ocupação do oeste brasileiro foram determinantes para esse redirecionamento dos fluxos migratórios no Brasil. A construção de Brasília, os investimentos em infraestrutura, novas fronteiras agrícolas, entre outros fatores, contribuíram para essa nova distribuição.

O Sudeste continua captando boa parte dos migrantes brasileiros. A região recebe muito mais gente do que perde. O Centro-Oeste também recebe mais migrantes do que perde, sendo, atualmente, o principal destino dos fluxos migratórios no Brasil. O Sul e o Norte são regiões onde o volume de entrada e saída de migrantes é mais equilibrado. A Região Nordeste tem recebido cada vez mais migrantes, sendo a maioria proveniente do Sudeste (retorno), porém, continua sendo a região que mais perde população para as demais.

Por Wagner de Cerqueira e Francisco Graduado em Geografia

Equipe Brasil Escola