Socialismo é uma doutrina política, econômica e filosófica surgida no final do século XVIII. Caracteriza-se pela ideia de transformação da sociedade através da tomada dos meios de produção e do controle dos recursos econômicos pela classe trabalhadora, bem como a gestão pública orientada pelo princípio da igualdade social. Show O socialismo surgiu durante a Revolução Industrial como programa político das classes trabalhadoras. Ele nasce como uma reação às condições de vida dos operários nos grandes centros industriais da Europa, contrapondo-se ao liberalismo e ao individualismo e defendendo uma total reformulação da sociedade. A nova sociedade projetada pelos socialistas deveria ser erguida sobre bases comunitárias e centradas no valor do trabalho. Enquanto doutrina econômica, o socialismo é o oposto do liberalismo, que se baseia na propriedade privada dos meios de produção e na economia de mercado. Para o socialismo, de modo geral, a economia é baseada na necessidade coletiva, não no lucro. Origem do socialismoO jornalista e agitador francês Noël Babeuf (1760 – 1797) é considerado um dos precursores do socialismo. Já no final do século XVIII, ele defendeu propostas de caráter socialista, como as reformas agrária e tributária. Karl Marx (1818 – 1883) e Friedrich Engels (1820 – 1895) são dois dos principais nomes do socialismo no século XIX. Fundaram o chamado "socialismo científico", que, baseado num método científico, faz a crítica do regime capitalista e proporciona um programa político de libertação da classe trabalhadora. O objetivo último desse programa é a superação das classes sociais - o comunismo, forma de organização social onde seriam abolidos o Estado e a propriedade privada dos meios de produção. Na teoria marxista, o socialismo representaria a fase intermediária entre o fim do capitalismo e a implantação do comunismo. No socialismo, o povo assumiria os negócios do Estado e os administrariam a partir de seus próprios interesses, com organização racional das forças produtivas. Para Marx e Engels, essa etapa seria historicamente necessária para a construção de um novo modo de vida, liberto da ideologia capitalista, dando origem ao comunismo. A partir dessa perspectiva, nenhum Estado ainda conseguiu ultrapassar essa fase, não proporcionando objetivamente uma experiência comunista no mundo. No entanto, ao longo do século XX e XXI, ocorreram algumas experiências socialistas. Tipos de SocialismoO socialismo admite uma série de correntes de pensamento, escolas e tendências. Todas elas possuem em comum as características fundamentais que configuram o socialismo: No entanto, cada uma compreende modos distintos de realizar a mudança social, ainda que o objetivo final possa ser comum: a realização do princípio da igualdade. O socialismo utópico foi uma corrente de pensamento criada por Robert Owen (1771 – 1858), Saint-Simon (1760 – 1825) e Charles Fourier (1772 – 1837). Nascido no início do século XIX, o socialismo utópico surgiu da crítica ao capitalismo e tentou encontrar soluções para os problemas da sociedade industrial. O nome socialismo utópico surgiu graças à obra Utopia de Thomas More, sendo que a utopia, usada de forma pejorativa, é referente a algo que não existe ou não pode ser alcançado. Esses primeiros socialistas tinham em mente a construção de uma sociedade mais harmônica, justa e de abundância pautada pelo comunitarismo e distribuição igualitária dos recursos. Marx e Engels, embora reconhecessem a importância desses pensadores, distanciaram-se deles, acusando-os de "fantasiar" sobre o futuro da sociedade. Marx e Engels criticavam nos socialistas utópicos o fato deles ignorarem as contradições existentes na sociedade e a importância da luta de classes, não apresentando, concretamente, um caminho viável para o socialismo. Leia mais sobre socialismo utópico. O socialismo científico, criado por Karl Marx e Friedrich Engels, propõe a análise científica do capitalismo, visando a sua superação. O socialismo científico, também conhecido como marxismo, afasta-se do socialismo utópico por propor uma "ciência" da revolução. Seu propósito é o de determinar as leis que regem as organizações sociais do capital, seu surgimento e manutenção para, a partir daí, buscar meios para sua superação. O socialismo científico foi determinante para o desenvolvimento da sociologia e das demais ciências sociais ao longo do século XX. A partir dessa teoria, o comunismo aparece como uma fase cientificamente previsível da história. Do mesmo modo que o socialismo se estabeleceria a partir da superação da fase capitalista. O socialismo marxista tem como fundamento teórico o materialismo histórico, que propõe um conhecimento racional do mundo e o desvelamento dos antagonismos existentes na sociedade. Por meio da análise das formações econômicas do passado (como o feudalismo), o materialismo histórico persegue a lei dos fenômenos sociais. Seu objetivo é entender como ocorrem os processos históricos, as leis que regem a morte e o surgimento de novas organizações sociais. O socialismo e o comunismo surgem como consequência necessária do movimento dialético (contraditório) da história. Segundo o socialismo científico, o conhecimento da história, para resultar nas transformações sociais desejadas, deve se ligar à ação política. Cabe à classe social majoritária, o proletariado (classe trabalhadora), assumir seu protagonismo e determinar a ordem social a partir de seu próprio interesse. Segundo Marx, só a classes trabalhadora, através da ação revolucionária, poderia solucionar o conflito da sociedade capitalista, promovendo a sua superação. Socialismo realSocialismo real é uma expressão que designa os países que tentaram pôr em prática os ideais socialistas. Importante destacar que o socialismo, tal como foi pensado pelos teóricos do século XIX, jamais foi plenamente implantado, muito menos o comunismo. No século XX, as ideias socialistas serviram de base para a construção de sistemas políticos, econômicos e sociais em diversos países. Alguns Estados que passaram por um processo revolucionário de orientação socialista, onde se destacaram algumas figuras:
Diferença entre Veja também: Socialismo é uma doutrina econômica e política que nasceu no final do século XVIII, na Europa, em contraposição às iniquidades sociais produzidas em larga escala pelo fenômeno da Revolução Industrial. Defende a reformulação da sociedade capitalista, transformando-a numa sociedade justa e igualitária. Para os socialistas utópicos, isso seria possível sem a destruição do capitalismo. Para os socialistas científicos, isso só seria possível com a destruição do capitalismo. A primeira corrente era reformista; a segunda, revolucionária. Porém, as experiências reais de sociedades socialistas são diferentes das idealizações de ambas. Leia também: Anarquismo – modelo socioeconômico que visa ao fim do capitalismo e do Estado Origem e história do socialismoO socialismo é um ideário político e econômico concebido no contexto da Revolução Industrial, em fins do século XVIII e meados do século XIX. Tendo por princípio basilar a igualdade, o socialismo foi construído em contestação ao capitalismo, que naquele período operava sem nenhuma forma de regulação ou legislação trabalhista que conferisse aos trabalhadores proteção e condições dignas de trabalho. A Revolução Industrial, embora seja um marco de modernização da produção de riqueza, foi marcada por:
Era o “capitalismo selvagem” em sua expressão exata, bem diferente do que conhecemos hoje depois de inúmeras lutas civis que garantiram:
Numa conjuntura social de intensificação das desigualdades sociais e, consequentemente, da miséria, a teoria socialista foi criada por pensadores que desejavam construir um caminho para uma sociedade organizada sob o princípio da igualdade. A primeira corrente de pensamento de vertente socialista foi denominada socialismo utópico. Posteriormente foi desenvolvido o socialismo científico. As características do socialismo variam conforme a vertente de pensamento. O ponto em comum é a busca da igualdade, mas os caminhos propostos para alcançá-la são distintos. No socialismo utópico, podemos destacar:
O socialismo científico, vertente revolucionária desse pensamento, tem características substancialmente diferentes da primeira vertente. Ele propõe:
Tipos de socialismoA primeira corrente do pensamento socialista foi denominada socialismo utópico e desenvolvida na Primeira Revolução Industrial. O filósofo e economista francês Saint-Simon foi seu principal intelectual. Ele não era defensor de uma revolução e da abolição da propriedade privada, mas de uma tecnocracia governamental e uma base econômica industrial em que não houvesse ociosos e explorados, mas compartilhamento na produção e usufruto da riqueza. Advogava um Estado forte que arbitrasse a economia e instituições fortes que distribuíssem os dividendos do progresso industrial e científico, conferindo aos pobres uma boa formação intelectual e qualidade de vida. Saint-Simon ressaltava a necessidade de que os ricos compreendessem que viabilizar melhores condições de subsistência aos pobres seria bom para a sociedade como um todo, incluindo eles próprios. Esse filósofo também era crítico da grande influência social exercida pela nobreza, pelo clero e pelos militares. Saint-Simon, teórico do socialismo utópico. O primeiro pensador a usar o termo socialismo.O segundo teórico mais importante do socialismo utópico, Charles Fourier, propunha a criação de sociedades comunitárias independentes da sociedade capitalista. Elas dependeriam do capital privado e teriam sua economia baseada na indústria. Ele não propunha a igualdade absoluta, mas que as diferenças de renda não fossem muito grandes. Assim como Fourier, Robert Owen idealizava comunidades independentes dentro da sociedade capitalista, porém baseadas na igualdade absoluta, tendo por único critério de hierarquia a idade. Para os socialistas utópicos, a indústria era o vetor do desenvolvimento econômico e para melhores condições de vida. Eles não defendiam a aniquilação do sistema capitalista. A nomenclatura “utópico” é decorrente da crítica que Marx e Engels, precursores da segunda vertente socialista, faziam a eles. Eles criticavam o socialismo utópico por apresentar um modelo de sociedade, mas não apontar os instrumentos para que ele fosse colocado em prática. Socialismo científico é a corrente de pensamento protagonizada por Marx e Engels. No século XIX, esses teóricos debruçaram-se na construção e divulgação de uma análise econômica da história. O socialismo científico, também conhecido como marxismo, propõe a compreensão científica de como o capitalismo funciona para poder substituí-lo por um regime econômico igualitário. Para seus autores, todos os períodos da História e todos os modelos econômicos foram estruturados sobre a luta de classes. No sistema capitalista, o antagonismo entre opressor e oprimido se apresentou principalmente em dois grupos:
Para Marx e Engels, a conscientização do proletariado sobre sua condição e, a partir disso, sua organização política constituíam o caminho revolucionário para debelar o capitalismo e construir em seu lugar uma sociedade igualitária. O socialismo seria marcado pela abolição da propriedade privada e pela socialização dos meios de produção, isto é, terras, indústria, todos os ativos de produção de riqueza pertenceriam à sociedade e seriam controlados pelo Estado e pela economia planificada, com o Estado dirigindo os setores econômicos, definindo preços e salários, regulando o mercado. Após a aniquilação das desigualdades por meio da interferência estatal, o próprio Estado seria abolido, e a sociedade seria livre e sem classes. O socialismo faria a transição para o comunismo. Veja também: Consciência de classe – percepção do próprio papel no sistema produtivo Experiências socialistasO autor socialista Robert Owen logrou construir uma comunidade baseada no seu ideal de sociedade. Nela, os salários dos trabalhadores eram altos, e os lucros dos sócios, limitados. Parte do lucro era investida em melhorias para a coletividade, o tempo de trabalho era menor que em outros lugares e, durante crises econômicas, os funcionários não eram demitidos ou desamparados. Todavia, a comunidade só funcionava harmonicamente sob sua liderança e, por fim, foi desfeita após brigas internas. A Comuna de Paris foi uma tentativa de implementação de um governo socialista. Em 1871, a classe operária revoltou-se contra o governo francês e, com o apoio da Guarda Nacional, tomou o poder em Paris. Seu governo era composto por 90 representantes de diferentes correntes socialistas eleitos por sufrágio universal masculino — mulheres não puderam votar. As principais mudanças realizadas por esse governo foram:
O governo operário durou 72 dias. Apoiado pelo exército prussiano, o governo francês derrubou a comuna e recuperou o poder. A adoção do ideário socialista por um país inteiro ocorreu pela primeira vez no século XX, na Rússia, que, em 1922, unificada a outros países, formou a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, que foi agregando países do Leste Europeu. Em 1917 a monarquia czarista foi derrubada por uma revolução que resultou em guerra civil. O Partido Bolchevique alçou ao poder Vladimir Lenin, sucedido por Joseph Stalin. Assembleia de deputados operários e soldados durante o Governo Provisório Russo, em março de 1917, antes da tomada do poder pelos bolcheviques.O último líder da União Soviética foi Mikhail Gorbachev, que renunciou em 1991, ano em que a URSS foi dissolvida. Em seus anos finais, a URSS era composta por 15 países:
Essa experiência é denominada “socialismo real” e foi precursora de regimes de economia planificada em outros lugares do mundo. É importante observar que, embora se baseie no socialismo científico em sua fundação sob a liderança de Lenin, não correspondeu ao que é preconizado nos escritos de Marx e Engels a partir do governo de Stalin. A hegemonia do Partido Bolchevique foi conquistada pela expulsão, exílio e execução de socialistas de vertentes distintas e mesmo de correligionários do partido. Stalin não seguiu o ideário de abolição de classes e do Estado, mas fortaleceu este sob o seu comando e cometeu incontáveis violações dos Direitos Humanos. Para saber mais sobre como se deu essa experiência socialista, leia: União Soviética. A Alemanha, após a Segunda Guerra Mundial, dividiu-se em duas: a Alemanha Ocidental e a Alemanha Oriental. Esta, apoiada pela União Soviética, desenvolveu um governo socialista de 1949 até 1990, caracterizado por uma economia planificada. A alta emigração, principalmente de jovens, para a Alemanha Ocidental, foi o motivo para que se construísse um muro em 1961, que ficou conhecido como Muro de Berlim. Em 1989, o muro foi derrubado, e o governo alemão, reunificado. A queda do Muro de Berlim é um marco no enfraquecimento do socialismo como modelo de governo. Ruína do Muro de Berlim (2010). A queda desse muro, em 1989, foi por muitos considerada o triunfo do capitalismo sobre o socialismo. [1]Muitos países que realizaram experiências socialistas o fizeram apoiados pela União Soviética, especialmente após o fim da Segunda Guerra Mundial, em que o exército russo teve um papel decisivo na derrota do nazismo. É importante lembrar o período da Guerra Fria, em que EUA e URSS, movidos por disputas políticas e econômicas, financiaram e apoiaram governos e golpes de Estado de direita, no caso dos EUA, e socialistas, no caso da URSS. Na década de 1960, alguns países africanos que estavam em processos de independência política das colônias aderiam a ideais socialistas, adaptando-os à história e cultura africanas, num movimento que ficou conhecido como socialismo africano, em que se destacaram o governo da
Embora norteados pelas ideias de desenvolvimento social, setor público forte e planos econômicos geridos pelo Estado, afastavam-se das ideias clássicas do socialismo europeu de luta de classes. Alguns países que tiveram experiências socialistas que se encerraram no início da década de 1990 foram:
Acesse também: O nazismo era de esquerda ou de direita? Autores socialistasOs primeiros pensadores socialistas, do chamado socialismo utópico, foram:
Os principais autores do chamado socialismo científico são:
Países que se consideram socialistas
Outros países que se definem como socialistas atualmente são:
Todos, em maior ou menor medida, são influenciados pelo capitalismo transnacional. Diferença entre socialismo e comunismoNa teoria marxista, o socialismo seria uma etapa para a construção do comunismo e um período de transição gradativa. O comunismo seria uma organização social onde não haveria divisão de classes nem Estado. Para desenvolvê-la, era necessário um período em que a sociedade controlasse a produção e distribuição de riqueza, promovendo a cooperação nas relações de trabalho e a igualdade na redistribuição dos bens produzidos. Esse controle social se daria mediante o Estado, que equalizaria os processos produtivos até que cada trabalhador pudesse apropriar-se do produto de seu trabalho sem que isso desapossasse a outrem ou limitasse a si mesmo. Então viria o comunismo, em que a sociedade regularia a produção, mas não imporia a ninguém uma atividade fixa para sua subsistência. O homem livre poderia “Caçar de manhã, pescar a tarde, pastorear à noite e fazer crítica depois da refeição (...) sem por isso me tornar exclusivamente caçador, pescador ou crítico”|1|. O comunismo seria o fim, e o socialismo seria o meio de alcançá-lo a partir da socialização dos meios de produção e do seu controle temporário pelo Estado até que a organização social fosse colaborativa e igualitária a ponto de o comunismo poder ser exercido. Curiosamente, nenhuma experiência real de tentativa de socialismo caminhou para essa definição marxista de comunismo. O que na prática dos países se costuma chamar de “comunismo” é justamente o fechamento dos regimes e a centralização do controle estatal, o oposto do que o marxismo preconizava. Portanto, nunca houve um país, de fato, comunista. Como aponta o cientista político Archie Brown|2|:
Veja também: Diferença entre esquerda e direita Diferença entre socialismo e capitalismoO capitalismo é um modelo econômico baseado:
O socialismo é um modelo econômico baseado:
Na vertente utópica, o socialismo seria um reformador do capitalismo que o regulasse e o equalizasse de modo a diminuir as desigualdades sociais. Na vertente revolucionária, o socialismo seria um caminho de transição do capitalismo para o comunismo, operando politicamente para modificar as bases econômicas da sociedade. A rigor não existe mercado totalmente livre de regulação. O capitalismo e os Estados nacionais emergiram juntos, e os governos são os fiadores desse modelo econômico, garantindo a propriedade privada e atuando com mais força em momentos de crise. Em princípio não existe ou existiu sociedade socialista plenamente compatível com o ideário utópico ou marxista. As experiências concretas baseadas nas ideias comunistas desembocaram em ditaduras de Estados totalitários. Por outro lado, o socialismo democrático, ou social-democracia, foi promovido com êxito em democracias representativas, especialmente nos países nórdicos, sob propostas de:
Notas |1| MARX e ENGELS. A ideologia alemã. |2| BUARQUE, Daniel. Duas décadas após queda do muro, comunismo se mantém vivo como utopia. Crédito da imagem [1] aldorado / Shutterstock |