Explique como os soros são produzidos

Mestre em Neurologia / Neurociências (UNIFESP, 2019) Especialista em Farmácia clínica e atenção farmacêutica (UBC, 2019)

Graduação em Farmácia (Universidade Braz Cubas, UBC, 2012)

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Acidentes com serpentes representam sérios problemas para saúde pública em países tropicais em desenvolvimento como o Brasil. Na América do Sul as principais causas de mortes por serpentes se dão por picadas de cobras Botrops alternatus (popularmente conhecida como urutu, cruzeira, urutu cruzeiro), Botrops jararaca (chamada de jararaca do rabo branco ou simplesmente jararaca), ou do gênero Crotalus, no Brasil este é representado pela Crotalus durissus, conhecida como cascavel que tem ampla distribuição geográfica no país. A utilização de soros imunológicos (ou soros imunes) tem sido reconhecida como tratamento efetivo para a picada destes animais.

Os soros imunológicos são preparações líquidas capazes de estimular o organismo a produzir anticorpos para o combate de toxinas liberadas por agentes infecciosos e venenos de animais peçonhentos como cobras, aranhas, escorpiões e taturanas. São também utilizados anticorpos como inativadores, em virtude de sua alta afinidade e alta especificidade pelos seus substratos eles se ligam e bloqueiam a ação dos agentes tóxicos.

Sua produção se dá pela obtenção de anticorpos equinos, onde, são inicialmente injetadas baixas doses do veneno de cobra no animal e esse passa a produzir anticorpos específicos contra as toxinas. Para que haja produção maior dos anticorpos é necessário aumentar gradativamente as doses do veneno. Após, é feita a coleta do sangue deste animal e a purificação para que sejam separados os anticorpos produzidos e seja produzido o soro imunológico.

A ação dos anticorpos se dá pela ligação destes em agentes infecciosos chamados de antígenos. O sistema imune então reconhece esses agentes ligados aos anticorpos e então é desencadeada a resposta imunológica. A utilização de soros imunológicos é efetiva principalmente contra patógenos que são capazes de evadir o sistema imune não estimulado anteriormente pelos agentes infecciosos.

Atualmente no Brasil, a maior parte do soro aqui produzido é elaborado pelo Instituto Butantã e distribuídos pelo Ministério da Saúde. Como exemplos podemos citar:

  • Anticrotálico – soro utilizado para o tratamento no casos de picadas pela cobra cascavel.
  • Antilaquésico – utilizado para o tratamento contra venenos de surucucu.
  • Antielapídico – usado contra o veneno de corais (gênero Micrurus).
  • Antitetânico – clinicamente útil para tratamento do tétano.
  • Antidiftérico – usado para tratamento da difteria.
  • Antibotrópico – contra o veneno das espécies de jararaca.
  • Antiescorpiônico – contra o veneno dos escorpiões.
  • Antiaracnídico – contra peçonha de aranhas.
  • Anilonomia – contra o veneno de taturanas.
  • Anti-botulínico - "A": aplicado em casos de intoxicação pela toxina botulínica do tipo A.
  • Anti-botulínico - "B": para tratamento do botulismo do tipo B.
  • Anti-botulínico - "ABE": para tratamento de botulismo dos tipos A, B e E.

Quanto aos efeitos colaterais, são mínimos, apenas uma pequena porcentagem dos pacientes são hipersensíveis a alguns componentes da formulação desses soros, porém estão sendo desenvolvidas novas formulações para evitar casos de hipersensibilidade, como por exemplo alguns soros que foram obtidos a partir de seres humanos.

Referências:
CANTER, H.M.C.; Perez Junior,J.A., HIGASHI, H.G., GUIDOLIN, R.R. Soros e vacinas. 2008. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2008_2/SorosVacinas/index.htm>

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Explique como os soros são produzidos

O ciclo de fabricação do soro: bom tema para introduzir uma aula sobre o sangue e seus componentes

O soro antiofídico é obtido a partir do sangue de um animal de grande porte, como o cavalo, que produz agentes de defesa contra o veneno inoculado em seu organismo. Primeiro, retira-se o veneno da cobra (1). Em seguida, injetam-se pequenas doses deste veneno no cavalo em intervalos de 5 dias (2) . Passados 30 dias, o sistema imunológico do animal cria anticorpos que neutralizam a ação do veneno. Então, retiram-se de 6 a 8 litros de sangue do cavalo em intervalos de 48 horas (3) . A única parte utilizada do sangue é o plasma, solução rica em sais minerais, proteínas, hormônios e anticorpos. As hemácias (glóbulos vermelhos) são devolvidas ao animal. Por meio de um processo de centrifugação retira-se o fibrinogênio, principal proteína do plasma, que sem ele se transforma em soro. Depois de uma série de testes químicos, o soro é envasado e distribuído para hospitais (4).

Resposta de Rosalvo Guidolin, médico veterinário e assessor técnico da Divisão de Soros e Vacinas do Instituto Butantã

Soros e vacinas são preparados que têm o objetivo de proteger o corpo contra o ataque de agentes invasores causadores de doenças (microrganismos ou substâncias tóxicas), denominados, de forma geral, de antígenos. O processo de combate a estes agentes é chamado de imunização, que ocorre através de substâncias chamadas anticorpos.

As vacinas contêm antígenos inativados ou atenuados, que atuam estimulando o corpo a produzir uma resposta imune específica, de acordo com o agente invasor. Elas estimulam a produção de anticorpos e esses, atuam no combate e na eliminação dos microrganismos invasores. Então, a vacina atua como uma medida preventiva para evitar certas doenças, o que é considerado imunização ativa.

Atualmente existem vacinas contra várias doenças, que devem ser tomadas periodicamente. Algumas doenças que são combatidas com vacinas são: rubéola, poliomielite, raiva, sarampo etc. Para evitar estas e outras doenças, não deixe de tomar todas as vacinas nos períodos corretos.

O soro são substâncias que contém anticorpos prontos para combater uma doença, toxinas ou venenos (de cobra, por exemplo). Ele é utilizado em casos em que o organismo não conseguiria produzir anticorpos específicos a tempo de combater o agente invasor. Eles atuam como medidas curativas, o que é considerado imunização passiva.

Normalmente, os soros são específicos para cada doença e tipo de veneno ou toxina. Para a sua produção é preciso extrair o veneno do animal ou as toxinas para as quais queiram produzir anticorpos de combate. Depois que a substância é extraída ela é injetada em cavalos para que eles produzam os anticorpos específicos para esse veneno. Quando é produzida a quantidade desejada de anticorpos, retira-se sangue do animal e então os anticorpos são extraídos.

Os soros podem ser utilizados no tratamento de picada de animais venenosos ou então para neutralizar substâncias tóxicas que causam doenças como raiva, tétano e difteria.

Ao ser picado por algum animal venenoso ou entrar em contato com alguma substância tóxica, procure imediatamente o atendimento médico de urgência.


Aproveite para conferir a nossa videoaula sobre o assunto:

O soro antipeçonhento é utilizado no tratamento de pessoas picadas por animais peçonhentos, e ele é obtido a partir do sangue do cavalo. Foi criado por Vital Brazil, médico nascido no ano de 1865, e até hoje não se conhece tratamento melhor para esse tipo de acidente.

Mas, afinal, você sabe como o soro antipeçonhento é produzido?

A produção do soro antipeçonhento começa com a retirada do veneno dos animais peçonhentos, como serpentes, aranhas, escorpiões e taturanas. Depois de retirado, o veneno é liofilizado, ou seja, retira-se toda a água dele, para o seu armazenamento em um freezer. Quando é utilizado para a fabricação do soro antipeçonhento, o veneno liofilizado é reidratado com soro fisiológico. Antes de injetá-lo no cavalo, esse veneno é ainda mais diluído, tornando-se menos forte. Depois de diluído, esse veneno é injetado em pequenas doses em cavalos, mantendo o intervalo de alguns dias entre uma aplicação e outra. A cada aplicação, a diluição dele vai diminuindo, de forma que se tenha uma maior concentração de veneno. É importante lembrar que nunca o veneno é inoculado no cavalo sem diluição, pois pode causar prejuízos e até a morte do animal.           

À medida que o cavalo recebe doses diluídas de veneno, o seu organismo produz anticorpos para combatê-lo. Ao passar de algumas semanas (geralmente seis), o animal já está imune àquele veneno, e então se realiza a sangria, que é a retirada do sangue do animal.

Geralmente são retirados de 6 a 8 litros de sangue do cavalo (quantidade que deixa o animal bem de saúde). Esse sangue passa, então, por um processo de separação do plasma, pois é nele que estão os anticorpos produzidos pelo organismo do cavalo. Os elementos figurados (hemácias, leucócitos e plaquetas) são devolvidos ao corpo do animal, com o intuito de preservar sua saúde.

Quando uma pessoa sofre um acidente com qualquer espécie de animal peçonhento, recebe o soro antipeçonhento, que pode ser dos seguintes tipos:

  • Soro antibotrópico: vítimas de acidentes com jararaca, jararacuçu, urutu e cotiara;
  • Soro anticrotálico: vítimas de acidentes com cascavel;
  • Soro antilaquético: vítimas de acidentes com surucucu;
  • Soro antielapídico: vítimas de acidentes com coral-verdadeira;
  • Soro antibotrópico-laquético: vítimas de acidentes com jararaca, jararacuçu, urutu e cotiara ou surucucu;
  • Soro antiaracnídico: vítimas de acidentes com aranha-armadeira, aranha-marrom e escorpiões brasileiros do gênero Tityus;
  • Soro antiescorpiônico: vítimas de acidentes com escorpiões brasileiros do gênero Tityus;
  • Soro antilonomia: vítimas de acidentes com taturanas do gênero Lonomia.