Carros populares movidos a diesel

Proibidos via portaria ministerial desde 1976, os carros de passeio movidos a diesel podem, em breve, voltar a ser produzidos no Brasil. Pelo menos essa é a ideia central do Projeto de Lei apresentado pelo deputado federal Heitor Freire (União-CE).

De acordo com o texto do PL 567/2022 protocolado pelo deputado, a portaria criada pelo Ministério da Indústria e Comércio (MIC 346) fazia sentido na época em que foi criada, mas, 46 anos depois, perdeu completamente o sentido de seguir vigente.

“É claro que em 1976 a realidade era outra. Em razão do primeiro choque do petróleo em 1973, assim como a importação de quase 80% do petróleo consumido em território nacional, a opção escolhida foi pela proibição de motores movidos a óleo diesel em veículos leves, optando-se pela gasolina e pelo etanol para esses automóveis. Além disso, os motores a diesel existentes até então se mostravam pouco eficientes quando adotados em carros de passeio, elevando a emissão de gases tóxicos e poluentes nas cidades”, comentou.

Ideia do deputado federal é ter carros de passeio movidos a diesel no Brasil (Imagem: Jennifer Latuperisa/Unsplash/CC)

Heitor Freire justificou o porquê quer o fim da proibição e defendeu o incentivo para a fabricação de novos veículos a diesel de maneira bem simples. Na visão do deputado, “o cenário mudou, a tecnologia avançou e os preços dos combustíveis aumentaram em patamares nunca antes vistos”.

O deputado complementou a defesa afirmando que a proibição de carros de passeio movidos a óleo diesel nada mais é do que “um capricho que prejudica unicamente o acesso do cidadão comum a uma matriz energética mais barata”.

Economia é outro ponto a favor do diesel

O preço dos combustíveis, citado em parte do texto do Projeto de Lei que defende a volta dos carros de passeio movidos a diesel no Brasil, foi um dos pontos em que o deputado Heitor Freire mais se apegou.

Ele citou que, enquanto um carro com motor a diesel pode rodar até 20 quilômetros com apenas um litro de combustível, os modelos movidos a gasolina não alcançam, em sua grande maioria, nem metade desta autonomia.

“Além disso, essa maior eficiência torna os carros a diesel com maior durabilidade e com manutenções de custo mais baixo, tornando-os uma opção mais vantajosa a longo prazo”, concluiu, confiante em ver o PL, em processo de tramitação, ser votado e aprovado no futuro.

Motor cinco-cilindros 3.2 turbodiesel do Troller T4 Marcos Camargo/Quatro Rodas

A venda de carros de passeio a diesel é proibida por lei no Brasil desde 1976 a partir da edição da Portaria MIC 346, pelo Ministério da Indústria e Comércio. A lei foi criada por conta da crise mundial de combustíveis e pela poluição gerada pelo enxofre presente no diesel na época, quando o País precisava importar 78% do petróleo consumido.

O Brasil é o único país do mundo que tem uma lei do tipo, embora esta restrição já exista em algumas cidades europeias.

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Atualmente, segundo o engenheiro Everton Lopes, da SAE Brasil, os motores poluem pouco por conta do aprimoramento do combustível, que tornou os veículos cerca de 30% mais econômicos em relação aos modelos a gasolina, além de entregar mais torque em baixa rotação.

Mesmo com a melhora, no Brasil o diesel é utilizado de forma prioritária no transporte, visto que o modal rodoviário é o principal meio de escoar produtos em nosso país, portanto proteger essa energia para esse modal é uma questão de segurança econômica para o Brasil.

Hoje, somente caminhões, ônibus, picapes com carga útil superior a 1.000 kg e utilitários com tração 4×4 e reduzida (ou primeira marcha mais curta, como nos Jeep Renegade e Compass) podem usar esses motores.

Houve repetidas tentativas de derrubar esse veto, mas sempre surgia algum argumento como a questão ambiental, pois no passado o diesel emitia muito material particulado prejudicial para a saúde humana. Porém com a criação do diesel S10, que tem baixo teor de enxofre em sua composição, esse argumento não faz mais sentido.

Motor 2.0 Multijet é exceção ao equipar Jeep Renegade, Jeep Compass e Fiat Toro Fernando Pires/Quatro Rodas

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A redução de enxofre, que é o principal responsável pela emissão de material particulado, foi expressiva. Em 20 anos passou de 13 000 ppm (partes por milhão) para 10 ppm.

Europa segue caminho contrário

O escândalo de fraude de emissões, que explodiu nas mãos da Volkswagen em 2015, o Dieselgate, se alastrou por outras fabricantes, fez a Europa desistir dos motores a diesel.

Havia um software que alterava o nível de emissões nos motores EA189 quando detectava uma situação de teste. As emissões eram até 40x menores do que em condições normais. 

Motor turbodiesel da Volkswagen promete consumo próximo dos 20 km/l no Arteon Shooting Brake Divulgação/Volkswagen

A Europa apostou forte nos motores diesel nas últimas décadas. De 10% em 1995, passaram a representar 60% das a venda de carros em 2011. Hoje, com maior oferta de carros híbridos (elétrico-gasolina) e menor oferta de motores diesel, os carros a gasolina já são os que mais vendem na Europa.

Tudo indica que essa tendência continuará. Existe a desconfiança do consumidor, que pode gastar 10% menos em um carro a gasolina com motor turbo com injeção direta que entrega força e eficiência semelhantes, além da iminente eletrificação dos carros vendidos no Velho Continente, que tende a não ter carros novos com motor a combustão a partir de 2040.

No final das contas, o Brasil pode ter antecipado uma tendência em décadas.

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